A Câmara Setorial da Apicultura da Secretaria Estadual da Agricultura estima que apenas 30% dos casos de mortandade sejam oficialmente notificados. A deficiência de informações é um dos obstáculos para a busca de soluções ao problema.
– É preciso haver parceria. O apicultor e o agricultor deve saber do outro, ter informação sobre onde estão e quando serão aplicados químicos nas lavouras – explica Aroni Sattler, professor de Apicultura da UFRGS.
Nos últimos quatro anos, o laboratório de Apicultura da universidade recebeu cerca de 30 amostras de abelhas vítimas de mortandades.
– Em 80%, os resultados foram positivos para presença do princípio ativo fipronil – revela o pesquisador.
Além da aplicação de químicos no período da floração de culturas agrícolas, proibido por prejudicar insetos polinizadores, a suspeita é de que o produto possa estar sendo utilizado junto a dessecantes, no preparo da lavoura – misturados em caldas de pulverização.
– Os resíduos da aplicação ficam na seiva das vegetações nativas, prejudicando as abelhas polinizadoras também – explica o professor, enfatizando que a receita precisa ser feita por agrônomos, respeitando as normas técnicas de aplicação.
Apesar da comunicação ter aumentado no campo nos últimos anos, facilitando as notificações de mortandades, ainda é preciso avançar, destaca Paula Arigoni, gerente de uso correto e seguro do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg):
– Os agricultores e apicultores precisam dialogar, fazendo o que chamamos de um pacto apícola.
Liderança do Colmeia Viva, movimento que reúne indústria de defensivos agrícolas, Paula ressalta que existem técnicas de aplicação amigáveis às abelhas e que precisam ser respeitadas. Com um canal aberto para receber avisos de mortandade, o grupo está acompanhando os casos recentes ocorridos no Estado.
Na quarta-feira (23) e quinta-feira (23), técnicos reuniram apicultores, produtores e assistência técnica de indústrias químicas em Carazinho, Cruz Alta e São José das Missões para avaliar a situação.
– Precisamos entender exatamente o que aconteceu para evitar novos episódios desta natureza – afirma Paula.
Apicultores e agricultores próximos
Por meio do aplicativo Colmeia Viva, apicultores e agricultores podem se aproximar e evitar prejuízos à produção de mel e de grãos. No ambiente digital, produtores identificam as áreas de sobreposição de atividades agrícolas e apícolas e avisam quando ocorrerão as pulverizações.
Criadores de abelhas recebem os comunicados de aplicações e, com isso, podem adotar medidas de proteção às colmeias.
O raio de comunicação recomendável é de seis quilômetros. A distância é protetiva, já que a área de voo de abelhas produtoras de mel, com ferrão, é de aproximadamente dois quilômetros. O aplicativo, lançado no final de 2017, está disponível para download gratuito nas plataformas App Store e Google Play.