O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Áreas de terra da região do Planalto, composta por 180 municípios no entorno de Passo Fundo, seguem sendo as mais valorizadas no Estado, segundo o último Relatório de Análise de Mercados de Terras (RAMT) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), divulgado nesta semana. A lucratividade proporcionada pelo cultivo de soja na região nos últimos anos ajuda a explicar a continuidade dessa liderança, segundo o perito federal agrário Sandro Müller.
— A soja virou "moeda" naquela região. Se você quer comprar terra lá e perguntar o preço, eles vão dizer 800 sacas, 700 sacas. Eles não falam R$ 70 mil, R$ 60 mil — destaca Müller ao mostrar a influência do mercado de soja nessa parte do Estado.
Além do solo com profundidade e textura que facilitam a retenção hídrica e desenvolvimentos das plantas em boa parte dos campos, essa região também conta com boa média de chuva, de acordo com a análise do Incra.
Na outra ponta, a Campanha e a Fronteira Oeste aparecem como as menos valorizadas dentro das 11 regiões analisadas dentro do relatório do Incra. Müller afirma que os valores de terra mais baixos de certa forma são semelhantes nessas duas localidades. Essa regiões contam com menor área com potencial para aproveitamento agrícola, afirma Müller. Alguns terrenos nessa parte do Estado também apresentam irregularidades que acabam puxando os valores para baixo.
— Por exemplo, se o solo é muito raso, a rocha está muito próxima, quando dá um verão muito seco, em pouco tempo seca até a pastagem. Então, sofre muito e isso afeta o valor da terra — exemplifica.
Para efeito de comparação, o valor de terra nua por hectare médio de terra agrícola de média produtividade de soja é R$ 24.128.35, em Bagé, e R$ 13.506, 41, em Santana do Livramento. Em Passo Fundo, esse valor fica em R$ 45.651,54. A região de Passo Fundo também conta com áreas de valor mais elevado, como as de grande produtividade. Terra nua é o valor de mercado do imóvel rural sem levar em conta melhorias, como construções e benfeitorias.
Em linhas gerais, os preços de terra não apresentaram mudanças significativas em relação ao último levantamento, de 2017, conforme o agrônomo. Müller destaca que existe ainda uma incerteza sobre como os efeitos da pandemia e a variação cambial poderão impactar no futuro do mercado de terras no Estado. O especialista estima que isso ficará mais claro apenas na próxima safra.
Além de balizar a aquisição de imóveis rurais para o Programa Nacional de Reforma Agrária, o RAMT também auxilia prefeituras para efeito de tributação e o setor privado na pesquisa por valores de terras em determinada região.