Normalmente atrelado à combinação de produção e consumo, o preço do leite no Rio Grande do Sul tem tido uma curva de sobe e desce em meio ao cenário de pandemia. Na terça-feira (26), projeção de valor para o litro de leite em maio trouxe tensão à reunião do Conseleite, que reúne, de forma paritária, representantes de indústrias e de produtores do Estado.
O valor de referência é, como diz o nome, uma orientação na hora das empresas pagarem pela matéria-prima.
O R$ 1,2089 representa recuo de 7,56% em relação ao consolidado em abril. E a primeira queda registrada depois de seis meses de alta (veja gráfico acima).
Entidades que representam produtores chegaram a considerar a não validação desse preço. Acabaram avalizando, com o compromisso de nova reunião do conselho em 15 dias.
– Se teve alta nos valores de projeção do Conseleite em março e abril e, mesmo assim, houve estabilidade e até queda nos preços praticados, imagina agora, com estimativa de redução. As indústrias se valem do preço de referência só quando é para reduzir – avalia Eugênio Zanetti, vice-presidente da Fetag-RS.
No mesmo tom, o presidente da Comissão de Leite da Farsul, Leonel Fonseca, afirma que o setor tem de trabalhar de forma conjunta, nas horas boas e nas ruins. Diz ainda que ficou um sentimento de quebra da relação de confiança entre as partes:
– Validamos os valores com muitas ressalvas. Demos um voto de confiança para as indústrias.
A avaliação é de que o aumento no mercado, que vinha em recuperação e teve pico de consumo em razão da covid-19, não foi repassado de forma proporcional. Em contrapartida, a estiagem verificada no Estado ampliou os custos no campo.
– Vínhamos saindo de uma pandemia, que é a seca, e aí veio essa outra – diz Fonseca.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat-RS), Alexandre Guerra pondera que as empresas vão precificar de novo olhando o mês inteiro. E que, depois do dia 15, os valores estão melhores:
– Está havendo a recuperação, ainda que não aos níveis do mês passado. Os dados mostram a volatilidade do mercado.
O dirigente observa que a situação deste mês é inversa à de abril, quando os preços começaram em alta e depois recuaram. O consolidado teve aumento sobre março, mas foi menor do que o projetado. A metodologia do Conseleite considera os primeiros 10 dias do mês para a projeção e depois ajusta, quando há alteração ao longo do mês. A pandemia tem sido um fator extraordinário, que tem impactado a demanda e influenciado o mercado.
E para o consumidor?
Nos supermercados, o leite longa vida registra alta. De janeiro a abril, aponta levantamento do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Ufrgs, a média mensal do litro passou de R$ 2,69 para R$ 2,95. Na primeira semana de maio, foi a R$ 3,01 e, na segunda,
R$ 3,04.
Uma das explicações para o aumento pode estar na demanda: na covid-19 as pessoas ficam mais em casa e o consumo aumenta.
No valor ao produtor, o UHT é um dos produtos considerados – há ainda leite em pó e queijos.