O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os frigoríficos do Rio Grande do Sul interditados após registrarem casos de coronavírus entre seus trabalhadores começarão a descartar aves nesta semana. A medida extrema será tomada por causa da interrupção do fluxo de abates, o que sobrecarregou a capacidade de alojamento nas propriedades. Mesmo com parte da produção deslocada para outras plantas, a indústria alega que não há como aproveitar todos os animais, pelo excesso de peso.
A BRF aponta que a paralisação da unidade de Lajeado, no Vale do Taquari, levará ao abate emergencial de 100 mil aves nesta segunda-feira (18) em uma propriedade na região. “A BRF ressalta que esgotou todas as possibilidades para tentar contornar a situação e realizou iniciativas preliminares, como o atraso do ciclo de produção e o remanejamento dos animais”, diz a empresa em nota.
Na sexta-feira, a companhia fechou acordo com o Ministério Público. O Tribunal de Justiça (TJ-RS) deu aval ao acerto e, depois de 10 dias, a planta retoma nesta segunda atividades de forma parcial.
O descarte também deve ser adotado nos próximos dias pela JBS, que está com unidade fechada desde 24 de abril em Passo Fundo, no Norte. O diretor-executivo, José Antônio Ribas Junior, calcula que cerca de 6 milhões de animais deixaram de ser abatidos no local. A maioria acabou sendo aproveitada em três plantas da empresa em Santa Catarina, mas restaram em torno de 1 milhão de aves sem destino definido.
– Se os abates não voltarem a ocorrer na segunda, vamos ter que entrar com pedido para a eliminação de aves. Tenho um estoque a campo que não consigo movimentar, e esses animais estão chegando ao peso em que se tornam inviáveis. O RS hoje é um problema para nós. Se eu apertar a produção em outra unidade (no Estado), daqui a pouco nos questionam – afirma Ribas Junior.
Responsável pelo pedido que mantém o fechamento da unidade, o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) atribui à própria JBS o prolongamento da interdição.
– Até agora, a empresa não protocolou os documentos pedindo o levantamento da interdição e comprovando o atendimento dos requisitos – aponta Priscila Schvarcz, coordenadora estadual do projeto de fiscalização de frigoríficos do MPT-RS.
Em outra frente, a JBS discute a liberação da planta na Justiça e afirma, em nota, que “todas as medidas foram apresentadas aos órgãos competentes”, sem indicar qual foi o encaminhamento.