No mais recente capítulo da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China, o presidente Donald Trump, jogando para a torcida, anunciou a concessão de subsídios para produtores de soja (e de outras commodities) prejudicados pela disputa. Em entrevista na última semana, o secretário de Agricultura americano, Sonny Perdue confirmou que haverá pacote de assistência a agricultores no valor de US$ 16 bilhões. Seriam R$ 14,5 bilhões para pagamento direto, US$ 1,4 bilhão para compras governamentais de alimentos e US$ 100 milhões para ações de promoção de mercado.
Como exatamente funcionará na prática ainda não está muito claro. Mas Perdue afirmou que o detalhamento sairá em breve. Enquanto isso, o mercado paga para ver. Ou melhor, não paga. Índio Brasil dos Santos, da Solo Corretora, diz que a tese de compensação apresentada por Trump ainda “não foi comprada”. Ou seja, não se refletiu em preços.
— Tudo isso não trouxe efeito prático, porque está muito no disse que disse. O mercado adotou um pouco de cautela — afirma Santos.
Até porque, no ano passado, do suporte total financeiro oferecido pelo governo dos EUA aos agricultores, só metade se concretizou, explica o especialista. O fato é que, em razão do embate com os chineses, os americanos já estão com estoques elevados. A combinação de silo cheio e nova safra volumosa ampliaria ainda mais o problema para Trump dentro de casa.
Para Luis Fernando Fucks, presidente da Associação dos Produtores de Soja do RS diz que a promessa de ajuda financeira aos agricultores dos EUA não preocupa:
— Isso não vai alterar o andamento da safra, que está muito atrasada.
O ritmo do plantio do grão em solo americano está bem aquém da média do período — é o maior atraso em 20 anos, o que ajudou a valorizar o produto na Bolsa de Chicago ao longo da semana.
Fucks avalia que, para fins de negócios, o que importa mesmo é se os chineses vão ou não comprar produto brasileiro. Santos concorda. O pior dos mundos para o agricultor do Brasil seria um acordo entre os dois gigantes, com mudança no fluxo de vendas. Algo que, no momento, não está no horizonte.