A perspectiva de Estados Unidos e China voltarem às boas, colocando ponto final na disputa comercial travada desde o ano passado é, neste momento, um dos principais pontos de atenção do agronegócio. E os números explicam o motivo. Compradores cativos dos produtos agrícolas brasileiros, os chineses ampliaram de forma considerável o volume adquirido depois de estabelecido o embate com os norte-americanos. No ano passado, o país asiático buscou 86% da soja que precisava no Brasil.
A quantidade do grão embarcada cresceu 23% em relação a 2017. Considerando as exportações totais do segmento, a participação cresceu de 33% para 40%.
– Ou seja: de fato, deixaram de comprar soja dos EUA. E criaram esse mercado adicional para o produto brasileiro, que eles já compravam – observa Carlos Cogo, consultor em agronegócio.
E os efeitos imediatos se ampliaram para outros itens. No acumulado do ano passado, os chineses também figuraram entre os maiores compradores de carne bovina, suína e de frango do Brasil. E é por isso que a reaproximação com os americanos é motivo de apreensão.
A reaproximação pode representar a perda desse espaço adicional e também trazer condições como estabelecimento de cota preferencial. Lembrando que os EUA são concorrentes diretos do Brasil no mercado de grãos e de carnes.
– Risco faz parte da atividade agrícola. Agora, incerteza é mais complicado, porque em geral quando você tem incertezas muito grandes, a trajetória que o cenário pode seguir é muito antagônica – disse André Pessoa, da consultoria Agroconsult, em fórum realizado na Expodireto-Cotrijal, ao avaliar os fatores que impactarão a venda de soja neste ano.
Superintendente do porto de Rio Grande, Paulo Fernando Estima também avalia que o desfecho da disputa entre EUA e China terá impacto no escoamento da safra gaúcha – na sua grande maioria, embarcada pelo terminal gaúcho.
Para Cogo, além dessa tensão trazida pelo ambiente externo, o “fogo amigo” de parte do governo brasileiro, que vem criticando a dependência em relação ao mercado chinês, preocupa:
– É o último país do mundo com o qual eu iria brigar. Estamos perdendo a oportunidade de nos aproximarmos ainda mais dos chineses.