Na guerra comercial travada entre americanos e chineses poderá sobrar uma brecha de mercado para produtos brasileiros. Em retaliação às taxas aplicadas por Donald Trump para importação de aço e alumínio da China, o país asiático resolveu aplicar tarifas para lista de 128 itens vendidos pelos Estados Unidos. Há várias produtos agrícolas na relação. Um deles é a carne suína congelada – que terá alíquota de 25%.
Se a medida é ruim para os americanos – o que deve incomodar criadores de lá, boa parte apoiadores de Trump –, para o Brasil, poderá se converter em oportunidade.
– Os Estados Unidos venderam, no ano passado, para a China, 275 mil toneladas de carne suína. O Brasil, 48 mil toneladas. Veja o tamanho desse espaço. Mas claro, isso não é só para o Brasil – afirma Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A União Europeia é o maior fornecedor desse produto para os chineses e também deve buscar seu espaço. Mas o Brasil está no páreo. No ano passado, a China foi o terceiro principal destino da carne suína brasileira, atrás apenas da Rússia e de Hong Kong. Foram embarcadas, em média, 4 mil toneladas por mês. Neste ano, os números avançaram: foram 11,9 mil toneladas em fevereiro. Março deve fechar com 13,5 mil toneladas. Parte desse avanço mostra o aumento do apetite chinês e, parte, o redirecionamento da oferta em razão do embargo russo.
Para Santin, a possibilidade de ampliar as vendas para a China tem duplo efeito positivo: tira a pressão do excedente que não está sendo embarcado para a Rússia e ajuda a regular o mercado interno.
– Acho que teremos um segundo semestre positivo. Essa sobretaxa abre espaço para o produto brasileiro, ajudando a fazer com que não haja excesso de oferta no Brasil, no momento de retomada do consumo – pondera o dirigente.
No total, 11 frigoríficos do país estão habilitados a exportar para a China. No Rio Grande do Sul, são apenas dois (as unidades de Santa Rosa e Santo Ângelo da Alibem) — assim como os russos, os chineses também exigem produção livre de ractopamina.
– A notícia é boa para o mercado, mas não tenho certeza dos efeitos. Claro que taxação em 25% é um número forte, com certeza deve ter impacto, a gente espera que se traduza em demanda por importar carne brasileira – pondera José Roberto Goulart, diretor comercial da Alibem e presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS.
Para os gaúchos a chance de ocupar esse espaço é mais limitada: como é zona livre de aftosa com vacinação, só pode embarcar para o país asiático carne sem osso.