Se a proposta da Previdência for aprovada do jeito que está, pode-se dizer que as mulheres do campo estão entre as que saíram perdendo com a alteração. No quesito idade mínima para aposentadoria, terão de enfrentar uma realidade mais dura do que a atual e em condição desigual em relação àquelas que vivem nas cidade.
No meio urbano, o governo aumentou a idade mínima para 62 anos, é verdade, mas ainda manteve diferença em relação aos homens, que ficam aptos ao descanso após os 65 anos. No campo, a idade é única: 60 anos, independentemente do gênero.
Hoje, as trabalhadoras rurais se aposentam aos 55 anos, e os homens, aos 60 anos.
A condição diferenciada concedida àquelas que atuam na produção agropecuária não veio por acaso. O trabalho tem de ser feito, na chuva forte, no sol escaldante, no sábado, no domingo, nos feriados. Tudo isso de forma simultânea com os serviços do lar e os cuidados com os filhos. Não é favorecimento. É reconhecimento de uma realidade de gênero e de ambiente que são, de fato, diferentes das encontradas nas cidades.
– Para as mulheres urbanas também não é fácil. Mas fico pensando como eu trabalho com a juventude nesta nova perspectiva que o governo está colocando para nós. Isso pode acelerar ainda mais o êxodo rural — entente Diana Justo que, além de ser agricultura, em Torres, é dirigente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS).
Especialista em Direito Previdenciário, Jane Berwanger considera essa uma das principais injustiças:o fato de que na cidade há diferença na idade mínima para aposentadoria entre homens e mulheres e, no campo, não.
– Não há explicação para isso. O trabalho da mulher no meio rural é tão ou mais penoso – observa a advogada.
Presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar na Câmara, o deputado Heitor Schuch (PSB-RS) concorda. Para ele, o governo "foi muito cruel com as mulheres rurais":
– Elas têm toda a atividade extra, a lida com a criançada. Horas e horas de trabalho que o governo não olhou. Será tarefa do parlamento fazer a correção.
Fazendo coro ao argumento de que há injustiça nesse ponto da proposta, Lérida Pavanelo, coordenadora das mulheres na Fetag-RS, diz que o trabalho agora será lutar para que as condições atuais sejam mantidas.
— A gente enfrenta adversidades climáticas. Quando você é jovem, faz o que pode e o que não pode. Mas quando chega aos 40 anos , já está com condição física reduzida, não tem mais o 100% no trabalho. Quanto mais se prorrogar a idade da aposentadoria, mais isso vai ocorrer – pondera Lérida, 52 anos.