A polêmica sobre a exportação de gado em pé pode ganhar novos capítulos. Além de promover audiência pública sobre o tema em Rio Grande, ainda sem data para ocorrer, a deputada Regina Becker (PTB) pretende apresentar projeto de lei que trate da movimentação de cargas vivas no RS.
As iniciativas reacendem o debate em torno da exportação do gado em pé, vista como alternativa para pecuaristas.
A coluna conversou com a parlamentar que aponta que os navios não oferecem condições ideais para o transporte dos animais. Confira trechos da entrevista.
Por que fazer audiência pública sobre o tema?
Durante o período em que os animais estão sendo embarcados, não resta dúvidas do acúmulo de dejetos que produzem, e isso tudo é colocado diretamente no mar. Foi o que aconteceu em Santos (onde lei impedido o transporte de cargas vivas foi aprovada). Eles têm laudos técnicos do alto grau de poluição nas águas das praias de Santos.
E tem também a questão da movimentação das carretas que são responsáveis pelo transporte do gado. Queremos discutir isso na comunidade de Rio Grande para ver até que ponto o mesmo não ocorre lá.
Outras regras estão sendo descumpridas. Existe normativa do Ministério da Agricultura que estabelece a obrigatoriedade de técnicos que acompanhem a carga viva até o desembarque. Os navios, com mais de 45 anos, todos velhos, adaptados ao transporte de carga viva, não oferecem o mínimo de condições aos animais.
Animais acostumados a caminhar em piso fofo, em ambientes naturais, e de repente são submetidos a pisos escorregadios e ficam mais escorregadios ainda com os resíduos de fezes, porque não comem nada pastoso. E ainda o balanço do mar, estão sujeitos a fraturas.
Existe a ideia de apresentar projeto de lei semelhante ao de Santos?
Com certeza, esse projeto já está formatado e será protocolado assim que tivermos essa audiência pública. Tenho absoluta certeza de que terá a mesma tratativa de tantos outros que já protocolei, de ficar parado na gaveta de um deputado, sem seguir o rito legislativo. Por interesses comerciais que se sobrepõem aos outros.
Mas e como fica o produtor?
Quem tem gado de raça não vai vender para se submeter a esse tipo de coisa. Eles vão comprando de pequenos produtores, que não são grandes pecuaristas, e vão estocando esses animais. O verdadeiro pecuarista, aquele que cuida do gado, duvido que concordaria em submeter a esse tipo de crueldade.
A senhora já esteve em navio que transporta gado em pé?
Não estive dentro porque não foi permitida a entrada. Nunca é permitida. O que a gente tem são as fotos de fora do navio, da movimentação de Santos. Todas as imagens que são veiculadas através da ONG Animals International, que defende o não transporte de gado em navio, de animais vivos por essa instabilidade de estrutura que oferecem aos animais.
30% dos animais chegam ao destino com fratura exposta. Muito são mortos, pisoteados, há escuridão absoluta.
A alimentação é completamente química. Sai de um pasto natural e passa a ganhar uma ração química. O objetivo é torná-los mais pesados durante a viagem. São vendidos por arroba, não por cabeça. Sem contar que a maior parte chega lá e são submetidos à cerimônia halal.