Números da balança comercial divulgados ao longo da semana comprovam a força do agronegócio na economia brasileira. Foi graças ao desempenho do setor primário, único com superávit, que o Brasil fechou 2017 com saldo positivo. Foi também puxado pelo desempenho de produtos agrícolas, como a soja em grão, que o porto gaúcho de Rio Grande obteve movimentação histórica no ano passado.
Ainda assim, quando se trata de dar o suporte necessário à atividade, o Brasil deixa muito a desejar. É o caso da dragagem de manutenção que precisa ser realizada no principal porto do Estado. Em 2015, chegou a ser firmado um contrato para a execução da limpeza. Mas a ausência de licença ambiental trancou a obra.
Depois disso, duas supersafras passaram por lá, não sem esbarrar em percalços. No ano passado, em duas ocasiões. Em abril, no auge da colheita, cinco embarcações carregadas com o grão ficaram impedidas de sair pelo assoreamento do canal de passagem.
Se na teoria o dinheiro está garantido, na prática as exigências relacionadas à licença ambiental foram ficando cada vez maiores. O que era limpeza de manutenção passou a ser encarada pelo Ibama como obra de aprofundamento. A superintendência do porto agora fala em fatiar a dragagem. Com isso, corre-se o risco de o serviço ficar pela metade.
O que se sabe com certeza é que a entrega do novo projeto ficou para fevereiro. Mas é bem provável que a discussão se estenda para março. Dali para o início da colheita de soja é um pulo. Ou seja: são enormes as chances de o escoamento ser feito sem que a limpeza tenha sequer iniciado. Paralisações como a do ano passado podem voltar a ocorrer. Será preciso contar com a sorte e torcer pelo tempo favorável para que os embarques ocorram sem problemas. Um país que deposita sua confiança no acaso do destino para beneficiar o principal motor da economia mostra falta de profissionalismo, colocando em risco a imagem no mercado externo.
Ninguém está dizendo que o ambiente não precisa ser respeitado e levado em consideração. Pelo contrário. Mas é preciso evitar que a burocracia seja companheira do bom senso. Decisões acertadas não estão ligadas ao tempo de espera, mas sim, ao trabalho efetivo das partes envolvidas no processo.