Mesmo que temporário, o embargo americano à carne bovina in natura brasileira cobrará seu preço. O Brasil recém dava os primeiros passos no mercado dos Estados Unidos quando veio o anúncio de suspensão. O episódio consolidou uma crise de confiança que começou com a Operação Carne Fraca, continuou com as delações da JBS e terminou com os abcessos encontrados pelas autoridades sanitárias. O efeito prático do embargo será a redução dos embarques. O de mercado, a repercussão da notícia.
– Os volumes embarcados para lá ainda eram pequenos. A suspensão das importações não chega a ser um grande problema hoje, mas será amanhã. Levamos muitos anos para abrir o mercado, e agora que estava aberto, fatos como esse não são positivos – observa Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul.
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Na prática, o Brasil levará mais tempo para consolidar as vendas desse produto em solo americano. E esse prazo extra terá um custo "imensurável", completa o economista. Os Estados Unidos são o segundo maior importador mundial de carne bovina – só perdem para a China. Por isso, ao apontarem um problema na carne brasileira, acabam levantando dúvidas sobre a qualidade no cenário global.
Dentro de casa, o impacto da decisão deverá vir sobre os preços do boi gordo, que já vêm ladeira abaixo.
– É mais um fato negativo no momento em que a gente está com a demanda enfraquecida. Deve ajudar a prejudicar – opina o consultor Fernando Velloso.
O medo do produtor em negociar com a JBS, perfeitamente compreensível diante do quadro atual vivido pela empresa, ajuda a baixar os valores do produto, à medida que ele opta por outros frigoríficos que, com maior oferta, ficam com poder de barganha.
No Rio Grande do Sul, o boi gordo está um pouco mais valorizado do que em outras regiões do país. Ainda assim, os preços no Estado são menores do que no ano passado.
Para virar o jogo, o Ministério da Agricultura precisará agir de forma semelhante ao pós-Carne Fraca: com agilidade e o máximo de transparência possível.