O fato de a Operação Carne Fraca detectar a participação de auditores fiscais agropecuários pode alimentar o debate sobre o rodízio da categoria nas inspeções. No mês passado, o Ministério da Agricultura determinou à superintendência no Estado que adotasse providências para promover "o rodízio dos encarregados da inspeção sanitária e fiscalização nas empresas, evitando a longa permanência dos servidores em uma só dependência".
A determinação é reflexo da Operação Pasteur, da Polícia Federal ( PF), que, em 2014, desvendou esquema em que servidores do ministério recebiam propina de laticínios do Vale do Taquari.
Na prática, no entanto, isso ainda não está ocorrendo. Primeiro, explica o superintendente Roberto Schroeder, porque não foi estipulado um prazo. Segundo, porque ele aguarda a estruturação de regras:
– O ministério teria de arcar com o custo de transferência dos fiscais. Não pode ser feito sem planejamento. Tem de ser organizado e amplo, como é no Exército e nos bancos.
O Estado tem 189 auditores fiscais agropecuários. Delegada no Rio Grande do Sul do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Agropecuários (Anffa Sindical), Consuelo Paixão Côrtes avalia que a Operação Carne Fraca poderá abrir caminho para a discussão sobre o rodízio no país inteiro.
A entidade chegou a emitir nota de repúdio pelo fato de a determinação ter sido feita apenas para os gaúchos. E ouviu do secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luís Rangel, que ele tentaria ampliar a decisão para os demais Estados.
Em reunião na quinta-feira, um dia antes da operação ser deflagrada, o diretor substituto do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Rafael Filiputti, disse que não havia intenção de fazer o rodízio. A ação da PF, no entanto, pode fazer a decisão ser repensada.
– Não se pode generalizar. Existem fiscais muito sérios. Não é porque uma pessoa fica 30 anos em um mesmo lugar que ela será corrupta – observa Consuelo, enfatizando que o sindicato apoia a investigação.