Levantamento feito pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) para medir a inflação do agronegócio revelou em 2016 uma tese antiga da entidade. É a de que o aumento de preços dos alimentos não está relacionado com aumento nos valores pagos ao agricultor.
O Índice de Inflação dos Preços Recebidos (IIPR) teve leve alta de 0,28% no último ano. No mesmo período, no entanto, o IPCA Alimentos cresceu 8,61%.
– Muitas vezes, as pessoas associam a alta dos preços da comida ao valor recebido pelo produtor. Mas é a inflação que aumenta os preços dos alimentos, e não o contrário – reforça Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul.
Uma análise entre os percentuais do IIPR e o IPCA Alimentos dos últimos cinco anos (veja arte), corrobora essa explicação. Luz lembra que entre 2013 e 2014, com o argumento de tentar frear a inflação brasileira, o governo federal isentou a tarifa externa comum do trigo, cobrada para a compra de países de fora do Mercosul. Naquele período, o Rio Grande do Sul produziu safra histórica, de
3,18 milhões de toneladas. E a medida adotada derrubou as cotações do cereal.
– O que se viu foi queda de 25% nos preços do trigo e aumento de 14% do pão – afirma o economista.
Salários, energia elétrica, combustíveis e aluguéis têm peso maior na composição dos preços de alimentos, acrescenta.
A quase estabilidade nos valores recebidos pelo produtor em 2016, bem como a do custo de produção – que fechou com alta de 0,33% – refletem, segundo a Farsul, a questão cambial. Depois de um 2015 com a cotação do dólar batendo a casa dos R$ 4, no ano passado a situação foi outra. A moeda brasileira ficou mais valorizada. Insumos como fertilizantes tiveram redução média de 19% e ajudaram a puxar o índice de custos para baixo.