No papel, os 648 trabalhadores do frigorífico Marfrig de Alegrete estão em férias coletivas. Nesta terça-feira, em tese, deveriam retornar ao trabalho. Mas a decisão da empresa de colocar um ponto final nas atividades da planta – que não será alterada, como deixou claro a companhia na última semana – modifica o cenário.
Uma liminar mantém os postos dos funcionários, mas a produção na fábrica não será retomada. Tanto que o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Stiaa) do município emitiu um comunicado no qual diz que "todos estão dispensados da apresentação até segunda ordem". Em nota, a Marfrig esclareceu que "os salários dos empregados relativos ao mês de janeiro de 2017 serão pagos a título de licença remunerada".
Por ora, os funcionários da unidade mantêm o emprego e o pagamento. Mas estão sem trabalho. E a indefinição sobre o futuro permanece.
– O clima na cidade está bastante pesado – confirma Marcos Rosse, presidente do Stiaa.
Quanto às vagas, a negociação será agora por meio da Justiça do Trabalho, a partir da próxima semana, quando devem ser retomadas as rodadas de conciliação. E o próprio sindicato reconhece que não há muito a ser feito. O diálogo será para se chegar aos melhores termos para uma rescisão.
Mas o governo do Estado ainda não jogou a toalha na tentativa de encontrar uma outra empresa para a operação da planta de Alegrete. Há muito mistério sendo feito em torno do assunto. Um investidor, que representa um grupo privado, entrou em contato com a Secretaria da Agricultura, mostrando interesse em assumir a produção do local.
O titular da pasta, Ernani Polo, tem reunião prevista para esta quinta-feira, em que buscará os detalhes do contrato de outrora firmado por Marfrig com o frigorífico Mercosul. Isso é considerado fundamental para saber o que se pode oferecer ao interessado. O secretário prefere não divulgar dados da indústria com potencial para assumir a planta de Alegrete. O que se sabe é que seria um grupo menor – o que exclui gigantes do setor como JBS, por exemplo.
Presidente do Sindicato Rural do município da Fronteira Oeste, Pedro Piffero reforça que há oferta de gado. Levantamento feito em 11 municípios que ficam em um raio de 150 quilômetros de Alegrete, aponta que são 370 mil cabeças de gado anualmente.
Enquanto governo e sindicatos se esforçam para dar sobrevida à operação, a Marfrig já começa a retirar materiais da unidade alegretense. Em nota, a empresa esclareceu que "está alocando produtos de seu almoxarifado para uso nas outras unidades produtivas", acrescentando que "não existe qualquer restrição legal quanto a retirada de bens e ou equipamentos". É preciso correr contra o tempo para que, antes do apagar das luzes, o investidor se torne figura concreta e a volta ao batente dos trabalhadores não seja apenas mera especulação.