
Conhecido pelo modo de vida mais simples, o papa Francisco tinha discursos fortes conectados ao momento econômico e político. Ele apoiou um movimento mundial de jovens chamado A Economia de Francisco e Clara. O podcast Nossa Economia, de GZH, ouviu o articulador do grupo no Brasil, Eduardo Brasileiro.
Como era a postura econômica do papa?
A primeira reflexão da economia do papa Francisco é sobre uma austeridade no modo de viver. É se despojar de tudo que conhecemos como pompas palacianas, inspirado em São Francisco de Assis. Uma vida franciscana. Ele tornou o papa uma figura mais simples, singela, humana e próxima, trazendo a discussão da economia para a vida concreta da Igreja. O pontífice ensina que a economia deve ser compreendida a partir das necessidades, das relações e das construções sociais das pessoas. A economia faz parte da lógica do evangelho desde a partilha e a multiplicação do pão, na perspectiva bíblica.
Quais suas provocações?
O papa Francisco foi beber nas primeiras comunidades cristãs para explicar para a humanidade que estamos em um tempo de repensar a economia, elaborar uma crítica. No Evangelii Gaudium, no tema "Essa Economia Mata" com letras garrafais, ele aponta que, enquanto alguns estão desfrutando de uma vida boa e tranquila, milhares vivem na miséria. É uma contradição do capitalismo. Estamos enrolados no consumismo e na acumulação de riquezas. Um problema estrutural está destruindo o planeta e as pessoas.
Como surgiu o movimento de vocês?
Em 2019, com um certo cansaço de reuniões com lideranças políticas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), ele vê que as suas palavras não encostam mais a mão na consciência. Então, ele faz um encontro com juventudes. Aí vem a Economia de Francisco, com pessoas da periferia do mundo, estudantes de economia e de outras áreas, professores, agentes de pastoral a empreendedores para pensar como seria dar uma nova alma à economia que vivemos hoje.
Isso gerou uma rejeição, não? O papa é, inclusive, xingado de comunista.
Ele sempre foi um homem do diálogo e colocou mesmo cardeais com quem não concordava. O crescimento da rejeição ainda assim é porque está para além da Igreja Católica. Há, no mundo, um fenômeno de crescimento da extrema direita, que critica a sociedade que quer romper com desigualdades e se aliena em um processo de inimigos internos. Ela conseguiu manipular os católicos e colocar o papa como inimigo.
Como vocês atuam?
Desenvolvemos uma perspectiva popular para as comunidades, que não se percebem agentes econômicos. Percebem-se endividados, empobrecidos, com problemas de trabalho. A economia serve à sociedade, não a sociedade serve à economia. O papa Francisco viveu as crises da Argentina, viveu a periferia. Dizia: "As pessoas precisam entender que seus problemas são coletivos, a saída também é coletiva.".
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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