Em mais uma medida por falta de recursos financeiros - assunto que a coluna vem trazendo há semanas -, a Caixa Econômica Federal reduzirá o valor do empréstimo em financiamentos imobiliários pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Os novos parâmetros começam a valer no dia 21, conforme comunicado enviado a profissionais do setor. A alteração mexe em empréstimos reajustados por TR (taxa referencial), poupança, IPCA e taxa fixa, valendo tanto para imóveis residenciais novos e usados, quanto para comerciais, construção individual e lote urbanizado.
Na tabela Sistema de Amortização Constante (SAC) - prestação começa mais alta, mas diminui ao longo do tempo -, a cota de financiamento cairá de 80% para 70% do imóvel. Na Price - parcelas iguais, mas com valor final maior de juro -, a redução é de 70% para 50%.
A Caixa concentra 68% do crédito imobiliário no país. A coluna tem recebido dezenas de reclamações de atrasos na aprovação, assinatura e liberação de crédito para compra da casa própria, inclusive com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Com a falta de "funding", o banco público tem limitado também o valor financiado para construtoras fazerem novos projetos. A saída tem sido migrar para outras instituições financeiras, que, porém, têm recursos "mais caros", o que impacta o consumidor na ponta. Além disso, o setor também sente o aumento da taxa de juro Selic, que voltou a ser feito pelo Banco Central.
Em nota, a Caixa diz prever que, observando demanda e orçamento, a carteira de crédito habitacional vai superar "o limite máximo projetado" para 2024, que era de um crescimento entre 8% e 12%. Acrescenta estar procurando novas formas de atender o crescimento do procura pelos financiamentos de imóveis. Até agora, os 7 milhões de contratos ativos ultrapassam R$ 800 bilhões.
"Em 2024, o banco concedeu, até setembro, R$ 175 bilhões de crédito imobiliário, o que representa um aumento de 28,6% em relação ao mesmo período de 2023. Foram 627 mil financiamentos de imóveis, beneficiando cerca de 2,5 milhões de brasileiros até o momento."
Colaborou Kyane Sutelo
Problema antigo
O problema de "funding" não é de hoje. As duas principais fontes são FGTS e poupança. O fundo de garantia tem sido liberado em diversas situações, do saque-aniversário anual ao calamidade. Enquanto isso, a caderneta perde recursos para outros investimentos com alta de juro de rentabilidade.
No início do mês, a Caixa chegou a dizer que as operações estavam "normais". Não estavam. Ainda em junho, em um evento do setor imobiliário, a vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês Magalhães, alertou para "um certo esgotamento" de recursos. Quais têm sido as alternativas levantadas? Uma é atrair investidores para Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que bancam parte do financiamento habitacional. Outra é reduzir a necessidade de depósito compulsório pelos bancos, permitindo que mais dinheiro circule. O desafio é baratear esses recursos, pois são mais caros do que os do FGTS e da poupança.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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