Está garantido o primeiro data center bilionário da Scala em Eldorado do Sul, investimento que a coluna vem antecipando desde a semana passada. Como ele será e o que é preciso para virar o megaprojeto planejado foram temas da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o CEO da Scala Data Centers, Marcos Peigo. Confira abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Qual o potencial de um data center?
De maneira bem simplificada, são empreendimentos que abrigam equipamentos computacionais que suportam o que usamos no dia a dia. Esta ligação pelo WhatsApp minha com vocês está usando um data center. Ou seja, é onde a internet vive, é onde a inteligência artificial está sendo implementada. Quase tudo o que usamos no mundo digital precisa de um data center, que se conecta às estruturas de telefonia celular, acesso de fibra para a casa de cada um de nós. Onde você tem data center, você tem progresso, desenvolvimento e geração de emprego.
Qual a conexão de Eldorado do Sul com o data center de Porto Alegre?
Eldorado é uma decisão que vem como uma expansão do data center que temos no 4º Distrito, em Porto Alegre, que é muito focado em conectar a Região Sul com o resto do Brasil. Foi um investimento de R$ 240 milhões, bastante afetado pela tragédia. Foi reconstruído e está no ar desde a semana passada. Agora, em Eldorado do Sul, buscamos expansão de capacidade. Porto Alegre já é bastante densa, sem grande disponibilidade de terrenos para uma construção de maior porte.
Por que mais a escolha por Eldorado do Sul, fortemente atingida pela tragédia?
Tem uma grande disponibilidade de energia conectada, com uma subestação subutilizada, que é a Guaíba 3. Ali, vamos implementar um novo campus de 54 megawatts de potência, 10 vezes a gente tem no nosso site de Porto Alegre e quase sete vezes a potência instalada em todos os data centers do Rio Grande do Sul hoje. Foi uma foi uma grata surpresa saber que estávamos fazendo o investimento em uma cidade que passou pelo que passou e ficou de pé ainda. O recado para qualquer cidade que queira atrair investimentos é visualizar a oportunidade de trabalhar junto da iniciativa privada, nunca do outro lado da mesa.
Qual o prazo para o projeto?
Logo após o anúncio, tivemos uma reunião multidisciplinar capitaneada pelo secretário Ernani (Polo, de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul), com a minha equipe e com a prefeitura. Estima-se que, em torno de 90 a 180 dias, tenhamos todo o empreendimento licenciado. Com isso, levaríamos de 12 a 14 meses para colocá-lo de pé. Para todos os efeitos de cronograma, inclusive com nossos clientes, temos trabalhado com ativação de, pelo menos parte dessa capacidade, ainda em 2025.
Mas essa é a largada de um projeto maior...
Agora, são R$ 3 bilhões do nosso capital, gerando cerca de 3 mil empregos nas etapas de construção, ativação e operação do site entre direto e indiretos. Esse investimento se traduz em R$ 7 bilhões quando você soma o que é atraído para o entorno e para a geração de energia. Ele marca o embarque em um grande sonho, de fazer do Rio Grande do Sul e do Brasil um hub global. Ou seja, uma área onde os datas centers que vão suportar a inteligência artificial para o mundo, especialmente para os Estados Unidos, onde falta energia, conexão e transmissão.
O que será preciso para virar a "cidade de data centers", atingindo o investimento muito maior da Scala e uma movimentação econômica potencial de R$ 500 bilhões no Estado, que o governador Eduardo Leite frisou no anúncio do protocolo de intenções?
O importante, em 90% dos casos, é que o governo não atrapalhe. Para dar o salto que transforma o país, a cidade, o Estado, precisamos que também ajude. Nesta etapa, o governo estadual e o municipal estão 100% junto conosco, garantindo a celeridade de licenciamento e o encurtamento dos prazos de conexão com a rede elétrica. Só que, para que esse sonho se torne realidade, precisamos de mais do que isso, de legislação de regulação que permita que o Brasil passe a ser um exportador de data centers, trazendo para dentro dos nossos a capacidade e o processamento de dados que não são nacionais. Para traduzir, é como se criássemos embaixadas. Quando você vai na embaixada americana em um território brasileiro, você está em um território americano. As leis que se aplicam naquela jurisdição são as da origem, e isso dá um conforto. Permitiria suportar o desenvolvimento de inteligência artificial, consumindo recursos daqui, como energia, mas processando dados e entregando o resultado para outros países.
Tem o marco regulatório da inteligência artificial.
O governador Eduardo Leite tem sido muito parceiro na interlocução com a autoridades federais, com o Congresso. O projeto de lei em curso, o PL 2.338, do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem relatoria muito boa e pragmática do senador Eduardo Gomes (PL-SE). Regula o uso de inteligência artificial e o desenvolvimento, envolvendo de maneira bastante efetiva a iniciativa privada e os especialistas do setor. Ele está sendo, vamos dizer assim, polido e ajustado para que possa contemplar essas possibilidades. É a nossa aposta. A Scala acredita que o país não vai perder essa oportunidade única.
Ouça a entrevista na íntegra:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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