Nas últimas décadas, gerações se mudaram do campo para o meio urbano em busca de uma vida melhor. Só que a realidade de quem vive nas propriedades rurais melhorou (embora ainda possa avançar bem mais). Há muitas pessoas que dizem ter vontade de morar no Interior e certamente outras tantas passariam a senti-la se soubessem das oportunidades.
Caminhando pela Expointer e conversando com vendedores nos estandes, eles relataram, por exemplo, que não conseguem vender máquinas agrícolas para alguns donos de fazenda que não têm mão de obra para operá-las. Os salários? Vão de R$ 5 mil a R$ 10 mil, somando mais alimentação e moradia em alguns casos. Lembrando que o custo de vida por lá é mais barato do que em Porto Alegre e Região Metropolitana.
Dá medo? Claro! Tanto medo quanto tiveram nossos pais e avós quando fizeram o caminho inverso. Por isso, o podcast Nossa Economia, de GZH, ouviu três líderes de entidades do agronegócio. A coluna escolheu aqueles que, com frequência, falam orgulhosos das suas propriedades rurais e que, vencidos os compromissos "da cidade", correm para passar o final de semana na sua terra.
Presidente do Sistema Ocergs (que representa cooperativas), Darci Hartmann:
– Depois de 40 anos na cidade, estou morando no campo há quatro anos. Não se discute qualidade de vida e dos alimentos. Tenho uma produção orgânica com minha família. É preciso definir o que você gosta e quer produzir. Depois, também pode criar um projeto econômico para ver a viabilidade e buscar recursos. As cooperativas têm técnicos em todos os setores, de comercialização, acompanhamento econômico e assessoria, importantes para construir com as pessoas o sonho de voltar a morar no interior.
Superintendente do Serviço de Aprendizagem Rural do Rio Grande do Sul (Senar-RS), Eduardo Condorelli:
– As propriedades precisam cada vez mais de pessoas para operar máquinas e fazer a gestão do negócio rural. Precisamos de conhecimento no campo e sabemos que a população urbana muitas vezes está até mais preparada pela disponibilidade de ensino. As pessoas podem procurar empregos bem remunerados nas fazendas. Claro que é um "cavalo de pau" na vida, uma transformação quase 180 graus. Mas o espaço existe inclusive para levar família. Propriedades estão crescendo e têm trabalho para homens e mulheres. Outra oportunidade é a prestação de serviço. As pessoas não precisam viver na fazenda, mas podem morar nas pequenas e médias cidades do Interior e prestar serviço para a propriedade rural. Estou falando de eletricistas, de mecânicos de carro ou de trator, de pessoas que trabalham com tornearias, com equipamentos eletrônicos, internet, antenas parabólicas, etc.
Vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti:
- Temos várias oportunidades na época de colheita, na de poda, nas nossas agroindústrias e no turismo rural. A agricultura familiar tem dificuldade de mão de obra, pois as famílias estão cada vez menos numerosas e a população rural está envelhecendo de maneira preocupante. Sindicatos de trabalhadores rurais são locais para buscar informação. Tendo força de vontade, os trabalhos são diversos, de operador de máquina, de trator e de colheitadeira na época da safra de grãos. Na minha região, na Serra, se trabalha muito na vitivinicultura, na época da colheita, da poda, do raleio. Tem também o cultivo de alho na região de Flores da Cunha e São Marcos. Isso sem falar nos trabalhos de limpeza e de caseiros. Bovinocultura de leite também precisa de muita mão de obra. O Senar promove mais de 200 cursos de especialização para quem não tem conhecimento. O turismo rural está crescendo bastante e precisamos de especialistas para ajudarem os agricultores a terem atrativos para visitantes.
No Spotify:
É assinante mas ainda não recebe a carta semanal exclusiva da Giane Guerra? Clique aqui e se inscreva.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna