O pior não é limpar. Não é reconstruir. É horrível, óbvio. Mas não é o pior. Se arregaça as mangas, desembolsa uma grana, pega empréstimo, aperta o cinto e vamos nessa. Mas uma vez, ok?
O problema maior é ver acontecendo de novo e ter a sensação de que vai se repetir. O rio varreu novamente o Interior levando a cerca reconstruída e o vidro recolocado há poucos meses. Na Região Metropolitana e na Capital, tem gente que nem conseguiu entrar na sua rua ainda. Outros que puderam já estavam fazendo as sacolas de novo hoje. Veio água do céu e dos bueiros, de cima e de baixo, com fúria.
Os lojistas do Mercado Público tiveram pouco mais de uma hora de esperança olhando o início da limpeza, que foi interrompida pela água subindo de novo. Por que será que nenhuma seguradora aceita ser contratada pelos mercadeiros? É uma pergunta retórica.
E ninguém assume a culpa. Nem da bomba de água que não funciona, nem do crédito prometido que não veio, nem da cidade mal planejada ou não replanejada em tempo, nem da mata ciliar do rio destruída, nem da encosta do morro desmatada, nem da poluição gerada, nem do lixo acumulado, nem da cobrança não feita, nem da cobrança não ouvida.
Sem apontar o erro, sem admiti-lo, não se tem diagnóstico, não se tem solução, não se tem segurança para o futuro.
O desânimo não vem só da lama quando a água baixa. O desânimo vem desta falta de coragem que deixa o espaço para a lama cobrir tudo de novo.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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