Em alta há meses, a inadimplência do consumidor bateu recorde no Rio Grande do Sul. A taxa atingiu 39,78% em março, segundo a Serasa Experian, superando os patamares anteriores mais altos, que tinham sido registrados no ano passado. São 3,614 milhões de gaúchos com contas atrasadas, ou seja, praticamente quatro em cada 10 adultos.
Apesar disso, não é a maior do que a média nacional, de 44,3%. A inadimplência mais elevada, de 53,7%, é registrada no Mato Grosso.
Outro recorde do Rio Grande do Sul é na soma das dívidas que já passaram do vencimento sem ser pagas. Pela primeira vez, o montante passou dos R$ 20 bilhões, para ficar em exatos R$ 20,361 bilhões. Com isso, o cálculo aponta que cada gaúcho está devendo, em média, R$ 5.633, também o valor mais alto da pesquisa.
Os devedores estão divididos meio a meio entre homens e mulheres. Cada um representa, portanto, 50%. Quanto à faixa etária, a maior parte fica entre 41 e 60 anos e, na sequência, entre 26 e 40 anos.
A maioria das dívidas atrasadas (30,46%) é com bancos e cartões, o que é preocupante, pois costumam ter o juro mais alto. Em segundo lugar, estão as contas básicas, como de luz e água, o que também é complicado, pois são despesas de todos os meses e que podem gerar o corte de serviços essenciais às famílias.
Ao podcast Nossa Economia, de GZH, o economista da Serasa Experian Luiz Rabi projetou que a queda começará em abril. Para isso, porém, é necessário que o juro continue caindo, que a taxa de desemprego siga baixa e que os reajustes dos salários se mantenham acima da inflação:
— O estrago foi muito forte no bolso do consumidor nos últimos dois anos, inflação e juro altos.
Rabi costuma dizer que a inadimplência sobe de elevador e desce de escada:
— Uma pessoa inadimplente deve, em média, para quatro credores diferentes, com quem tem que renegociar. Para ficar inadimplente, basta uma dívida, que acaba puxando outras. Mas as pessoas não conseguem renegociar quatro dívidas em um mês só. Normalmente, renegociam primeiro com bancos para recuperar crédito do cheque especial e do cartão. Depois, tentam com varejo, prestadoras de telefonia e outros. É um processo lento.
Bastante completo, o indicador da Serasa Experian considera títulos protestados, dívidas vencidas com bancos e não bancárias (lojas em geral, cartões de crédito, financeiras, prestadoras de serviços como fornecimento de energia elétrica, água, telefonia etc) e até cheque sem fundo. Ao não computar apenas a inadimplência do sistema financeiro, ela captura movimentos cíclicos, que, muitas vezes, se manifestam em bancos de 6 a 12 meses depois.
Onde está a "grana"
Ao ouvir os dados na Rádio Gaúcha, o presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo (FAGV), Vilson Noer, lembrou à coluna que muitos consumidores assumiram dívidas com juro baixo no auge da pandemia, quando houve estímulo a empréstimos e ao consumo. Depois, a taxa foi elevada pelo Banco Central para conter a inflação, o que deixou o pagamento e a renegociação mais difíceis.
— Vira uma bola de neve quase sem saída — comentou o empresário, que acompanha o comportamento da inadimplência no Rio Grande do Sul há décadas.
Noer também pondera algo bem relevante neste cenário: outros consumos retiraram renda, como planos de saúde, remédios, comida e apostas em jogos.
— A grana não chega mesmo... — diz.
Relembre a entrevista do economista da Serasa Experian Luiz Rabi ao podcast Nossa Economia:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jaques (guilherme.jacques@diariogaucho.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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