Embora ainda com uma das menores taxas do país, a inadimplência dos gaúchos bateu recorde. Segundo a Serasa Experian, 39% da população adulta no Rio Grande do Sul está com dívidas atrasadas. Confira abaixo trechos da entrevista com o economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, e ouça a íntegra no final da coluna.
Como se chegou à inadimplência recorde?
Passamos um período com números de inflação acima de 10%, o que acabou fazendo um estrago brutal na capacidade de pagamento das pessoas. Quando o consumidor fica inadimplente, do outro lado do balcão, que não está recebendo o que deveria, bancos, cartões de crédito, financeiras e outras empresas entram em dificuldades financeiras, também em inadimplência, que é o que estamos presenciando.
Inadimplência é ruim, mas pode ser pior. Qual a qualidade das dívidas?
Vimos crescer a inadimplência junto às financeiras. De todas as contas vencidas, são 15%. As pessoas começaram a buscar fontes de curto prazo de financiamento para esticar o salário até o final do mês. Foram onde o crédito é mais fácil, mas é mais caro. Nas financeiras e nos cartões de crédito, imaginando que seria temporário, mas não foi. A inflação subiu durante vários meses e o consumidor começou a se enrolar. É uma inadimplência de qualidade ruim, porque as taxas de juros são praticamente as maiores do mercado. Costumamos dizer que a inadimplência sobe de elevador e desce de escada, porque ficar inadimplente é muito fácil e sair é muito mais difícil. Hoje, o brasileiro não deve apenas para um credor. A média, por CPF, são de quatro. A saída é renegociar.
Como identificar propostas ruins, que só alongam a dívida aumentando o juro a ser pago?
No caso da Serasa, a pré-condição para entrar no nosso feirão é que o credor ofereça de fato descontos reais e não só parcelar o mesmo valor da dívida. Na plataforma Limpa Nome, o devedor por fazer uma contraproposta. É importante que as pessoas saibam pelo menos o valor original daquela dívida, ou seja, aquela fatura do cartão de crédito de R$ 1 mil que não foi paga. Se ela está agora R$ 5 mil, R$ 10 mil ou qualquer outro valor, não importa.
A Serasa também monitora pedidos de recuperação judicial. Algumas empresas estão ajuizando para não pagar dívidas. Isso encarece o crédito para outras?
Sem dúvida. O problema é que as empresas pedem a recuperação judicial tarde demais. Acumulam muitas dívidas e chegam ao Judiciário quase em falência. Fizemos um levantamento há uns cinco anos, antes da mudança da lei, e vimos que apenas um quarto das empresas se recuperava, cumprindo os termos do acordo.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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