A inadimplência do consumidor está subindo e voltando a se aproximar do recorde. No Rio Grande do Sul, quase 40% da população adulta tem contas atrasadas, mesmo com desemprego em queda, corte no juro e reajustes salariais acima da inflação. Confira abaixo trechos da entrevista do economista da Serasa Experian, Luiz Rabi ao podcast Nossa Economia e ouça a íntegra no final da coluna.
Por que a inadimplência está subindo mesmo com um cenário econômico melhor?
Pelo período sazonal complicado. Temos concentração de dívidas em janeiro e fevereiro, como pagamento de IPVA e IPTU, materiais escolares e reajuste de mensalidade. Esperamos que, passado esse período mais crítico, retomemos a trajetória de queda da inadimplência, principalmente a partir de abril.
Desemprego caindo e renda subindo acelerariam a queda?
Acho que não, porque o estrago foi muito forte no bolso do consumidor, principalmente nos últimos dois anos. Fatores econômicos fizeram com quem a inadimplência subisse de 62 milhões por volta de setembro de 2021 até os atuais 72 milhões, ou seja, 10 milhões a mais de brasileiros ficaram inadimplentes. Tivemos inflação e juros altos, encarecendo dívidas e dificultando renegociações.
Você costuma dizer que a inadimplência sobe de elevador e desce de escada. Por quê?
Porque hoje uma pessoa inadimplente deve, em média, para quatro credores diferentes, com quem tem que renegociar. Para ficar inadimplente, basta uma dívida. É muito fácil ficar inadimplente, só que é muito difícil sair da situação, porque uma dívida acaba puxando a outra. As pessoas não conseguem renegociar quatro dívidas em um mês só. Normalmente, renegociam primeiro com os bancos para recuperar o crédito do cheque especial e retomar o crédito do cartão. Depois, tentam com o varejo, prestadoras de telefonia e outros credores que vão deixando mais para frente. É um processo lento.
A inadimplência se retroalimenta porque é usada para definir o juro de novos empréstimos. As instituições estão prevendo essa queda a ponto de diminuir as suas taxas?
Com certeza. No setor bancário, que é o primeiro lugar onde a inadimplência cai, já está ocorrendo desde o segundo semestre do ano passado. Vemos nas estatísticas do Banco Central e isso ocorre em função dessa melhora do cenário de renda, emprego, juros e inflação. Os spreads bancários (custo que o banco coloca em taxas de empréstimo) também começaram a cair em julho do ano passado, o que facilita as renegociações. É uma questão de tempo. Acreditamos que 2024 será o ano que a inadimplência entrará em uma trajetória consistente de queda, iniciando pelo setor bancário e, depois, alastrando-se para os demais. Mas tem que manter o cenário de queda do desemprego, recuperação da renda dos consumidores e da redução das taxas de juros, além da estabilização da inflação. Se uma dessas variáveis sair fora do combinado, a situação, de fato, pode ser alterada.
A qualidade do endividamento das famílias melhorou? Na pandemia, as pessoas tomaram crédito para pagar supermercado e contas básicas, como energia, gastos que ocorrem todos os meses.
Ainda não, temos ainda concentração grande nas contas mais básicas. Na inadimplência, 54% das contas ainda são de fora do sistema bancário. Estamos falando de contas de água, luz, telefones, varejo... atrasadas quando a inflação estava alta. Consumidor fica sem ter para onde correr. De fato, foi uma onda gigantesca de inadimplência.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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