Um ranking global considerado o "Oscar da sustentabilidade" teve uma gaúcha em destaque. A Lojas Renner foi a única empresa do Estado e a única varejista brasileira na A List. O resultado foi detalhado pelo CEO Fabio Faccio em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, quando também comentou sobre a concorrência com sites estrangeiros e mudanças no mercado brasileiro da moda. Leia e assista a trechos abaixo. A íntegra da entrevista está disponível no final da coluna.
O que garantiu esse destaque nos cuidados com o meio ambiente?
É uma jornada de construção. Trabalhamos há tempo na mitigação de riscos climáticos. Compensamos a emissão de gases desde 2016. Em 2017, lançamos compromissos públicos de todo o tema de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança). Superamos as metas em 2021 e lançamos novas. A equipe se engaja, encanta os clientes e faz sentido para os acionistas.
O que tem de diferente nos produtos?
Mais de 80% das peças que vendemos têm atributos sustentáveis. Tem mais moda, mais qualidade e preços menores. O preço está melhor do que há um ano. O algodão é certificado, nos preocupamos com a origem da matéria-prima, olhamos parceiros e fornecedores, reduzimos o consumo de água e energia. Todas as operações usam energia renovável.
Vocês geram ou compram no mercado livre de energia?
Ambos. Temos fazendas solares e eólicas, mas compramos no mercado livre de fontes renováveis.
Como o consumidor sabe?
A maioria das peças tem uma etiqueta com os atributos. O "Selo Re" de moda responsável mostra a matéria-prima e a forma de produção. No site, há informações sobre a origem da peça. Temos transparência, o que nos levou a pontuar melhor nesse ranking.
A sustentabilidade na moda rediscute o fast fashion, que por anos trouxe roupas pouco duráveis. Como a Renner se encaixa na mudança?
A nossa moda tem que ser bonita, de qualidade e sustentável. Há alguns anos, compramos uma startup chamada Repassa, que é um brechó online. Vimos que a maior parte das peças de segunda mão vendidas na plataforma era de marcas próprias da Renner. Ou seja, tinham durabilidade para isso, não é fast fashion nem descartável. Temos coletores de roupas usadas, destinamos para doação ou "refibrar", fazendo roupa de tecido reciclado. É a economia circular. Em algumas lojas, recebemos para revenda no Repassa. Os consumidores buscarem empresas que têm essa preocupação contribuem para o meio ambiente. Tem as que fazem esse trabalho muito bem, mas algumas não, infelizmente. Só se preocupam em ter preço extremamente baixo, com produtos descartáveis.
Outro desafio do varejo brasileiro é a concorrência com as compras feitas em sites estrangeiros. A Receita Federal até apertou o cerco, mas o Ministério da Fazenda isentou do imposto de importação de 60% compras de até US$ 50 das empresas que estão no Remessa Conforme. A ideia é retomar em 2024 com uma alíquota menor. Qual a expectativa?
A expectativa era ter condições iguais. Se o imposto é zero para plataformas que estão em outros países, gerando empregos lá e não olham para questões ambientais nem regulação e pirataria, por que não zero para nós também? Buscamos isonomia, pois, nestas condições, temos preços menores para produtos melhores, com cuidados sociais e ambientais.
Qual a alíquota ideal para uma concorrência leal?
Ninguém briga por aumento de imposto, brigamos por condições iguais. Baixar o imposto das empresas nacionais seria o ideal, gerando mais emprego, renda e menor preço. O que temos hoje é uma discrepância. Eles pagam 0% ou 17% (alíquota do ICMS, que foi mantido). As empresas nacionais carregam uma carga tributária de 80% a 109%. É absurdo.
Como produtos da Renner feitos em outros países, como Índia e China, entram no Brasil?
Dos nossos produtos, 70% são feitos no Brasil. A parte de fora paga em média 45% de imposto de importação mais uns 22% de ICMS em cima disso, fora todos os outros tributos do país, que tem uma das cargas mais altas do mundo. Chegaria em torno de 96%.
Como ficará o mercado com a fusão entre Arezzo e Grupo Soma?
A princípio, não muda muito. Já são empresas existentes, cada uma com suas inúmeras marcas. Tem uma fusão longa para acontecer. Talvez melhore para essas empresas e para o setor, mas, para o consumidor, são as mesmas marcas. Nós temos um posicionamento de moda com qualidade e preços competitivos. Eles, em geral, estão posicionados com preços mais elevados. É outro segmento. Para nós, muda pouco.
Colaborou Kyane Sutelo
Ouça a entrevista na íntegra:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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