Enquanto ainda deveria estar com foco na estiagem, a agricultura do Rio Grande do Sul precisa agora lidar com os impactos das enchentes e com a chuva que não dá trégua. Os principais alertas vão do que precisava estar sendo colhido agora, como o trigo, ao que já deveria estar como solo em preparação para início de plantio, como o arroz e o milho.
O trigo, por exemplo, é a principal cultura de inverno no Rio Grande do Sul, que está embaixo da água, enquanto já deveria estar saindo da terra. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), a chuva em excesso em setembro prejudicou a qualidade da lavoura e afeta a produtividade. Ou seja, será colhido menos cereal e de qualidade menor.
É um baque para o trigo, que, com investimento nos últimos anos, atingiu o patamar necessário para suprir a demanda dos moinhos, reduzindo muito a necessidade de importação. Lembrando que o cereal é usado para fazer a farinha, insumo de pães, massas e biscoitos.
- Muito preocupante. Estamos torcendo para colher, mas a chuva não dá intervalo suficiente. Corremos o risco de o trigo não ter qualidade de novo - diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Rio Grande do Sul (Sindipan/RS), Arildo Bennech Oliveira.
Quanto ao arroz, a coluna foi abordada na rua por um produtor de Rio Pardo, bastante preocupado que o atraso no plantio possa comprometer a safra toda. Segundo o Cepea, a chuva dificulta a preparação do solo para as atividades pré-plantio. A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) também alerta para o milho, que deveria em breve ter início de plantio e sofreu com a estiagem passada. Em condições normais, o Estado já não produz o suficiente do grão para o que precisa, especialmente para alimentar animais, o que influencia o preço da carne suína e de frango.
Preços
Quanto aos preços ao consumidor, as altas ainda não apareceram. Os alimentos mais baratos seguem evitando alta maior da inflação, pelas pesquisas do IBGE. Porém, o cenário tende a mudar.
- Esperamos uma aceleração dos preços livres pressionada por clima e sazonalidade de fim do ano. Previsão inclui impacto substancial do clima sobre preços dos alimentos - alerta Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos.
Local onde produtores vendem hortigranjeiros, a Ceasa/RS prevê aumentos a partir dos próximos dias, começando pelas hortaliças. Produtores de frutas, como banana, também já relatam problemas na colheita. Quando o alimento está com qualidade inferior, até pode ter uma redução inicial de preço. Porém, quando a procura pelos consumidores se mantém e a oferta cai, a tendência posterior é de alta.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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