O jornalista Tércio Saccol colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Entra em vigor nesta terça-feira (1º) o programa federal Remessa Conforme que traz novas regras para pessoas importarem produtos. A lei funciona por adesão das empresas que vendem itens e isenta impostos federais para produtos de até US$ 50, favorecendo gigantes como Shein e AliExpress. Para o presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski, a medida é insustentável.
Com o programa já em vigor, o que o varejo nacional pode fazer diante desse cenário, já que sabemos que tem empresas muito fortes internacionais que vão aproveitar muito essa condição?
Essa questão atrapalha muito o varejo, em especial, o de vestuário, que tem itens de até R$ 250. Vai estar ao alcance do varejo convencer os clientes que vale mais a pena ir em uma loja física para experimentar a peça, para sentir o tecido, ter o relacionamento. Isso é o que vai nos restar. É uma pena que o governo tenha tirado o imposto de importação de produtos, isso atrapalha muito o varejo, os empregos e a produção nacional. Vai ser bem complicado para nós.
Há expectativa de que isso possa ser revisto?
A nossa expectativa é que o governo tenha feito isso apenas para que as empresas do Exterior entrassem no programa e que depois volte a incluir o imposto de importação PIS e Cofins, porque é inaceitável que produtos vindo do Exterior, com mão de obra do Exterior, venham e façam concorrência injusta com as nossas lojas. Nós esperamos muito, temos convicção de que o governo vai reverter essa situação, porque é inaceitável. A pressão do varejo vai continuar muito alta, vai começar a ter demissões. Acreditamos em demissões tanto de varejistas quanto de fábricas que produzem os vestuários, em especial. Isso vai ter que ser revertido. Nós precisamos muito da reversão dessa situação.
Em cidades de médio e pequeno porte no interior do Brasil, onde muitas vezes o preço não pode se competitivo por conta de aspectos como logística, estradas.. essas lojas serão as mais afetadas?
Essas cidades já são afetadas hoje do jeito que já é. Já tem imposto. Essa questão já afeta muito essas lojas do interior. Imagina no futuro próximo, quando não tiver imposto e ainda for mais rápido a importação, porque se for na remessa conforme vai ser mais fácil de as coisas passarem pela alfândega, então isso vai atrapalhar mais ainda essas cidades. Esse programa é muito nefasto, ele atrapalha muito o varejo e tem que ser revisto pelo governo.
Que outros tipos de medida podem ser estabelecidos evitando, daqui a pouco, que haja um colapso, especialmente para esses pequenos varejistas do interior que nós falamos, e até de outros setores?
Nós conversamos com deputados federais, mas para chegar ao Ministério da Fazenda, isso é bem mais complicado. Inclusive, porque isso não é uma lei. Tudo é por formato de portarias, que realmente o governo pode alterar esses impostos. É uma questão bem complicada. A pressão tem que ser por todos os lados para reverter essa situação. É bem complicado. O IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo) foi pedir uma coisa e o resultado da conversa foi o contrário do pedido. Ele solicitou que o governo impusessem as regras para equalizar os impostos como a gente paga, e o governo fez o contrário. Nós vamos continuar mantendo a pressão.
Já existe algum tipo de estimativa, por parte do varejo, de quebra na produção ou venda?
Não tenho esses números, mas vai fazer muita diferença. Uma diferença que faz, às vezes mais do que uma pessoa comprar ou não comprar, é a percepção de valor. Imagine um casaco que em Porto Alegre custa R$ 400 em média. Aí você está pensando em comprar e percebe que na internet tem por R$ 250. Talvez tu nem compre na internet, mas a tua percepção de valor achando que o valor do casaco é R$ 250, já te atrapalha a compra, porque o valor com todos os impostos seria aqueles R$ 400. Então, é mais do que efetivamente comprar ou não comprar. É essa desmontagem de valor de percepção. Isso é muito complicado para o varejo.
Colaborou Guilherme Gonçalves
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna