O jornalista Tércio Saccol colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Com sede em São Leopoldo, a indústria de armas Taurus está demitindo cerca de 100 pessoas nesta semana. A informação foi dada pelo CEO Salesio Nuhs, à coluna. Ele atribui ao novo decreto de armas do governo federal, com limitações de acesso e novos níveis de controle, um contexto de insegurança jurídica e incerteza.
Com os cortes de funcionários, a fábrica, que já tinha desligado 230 pessoas no início do ano, fica com o quadro de aproximadamente 2.750 funcionários. O CEO da empresa, no entanto, não descarta que haja mais demissões futuramente:
— Há, agora, uma negociação de pauta com o sindicato (dos metalúrgicos, que representa os funcionários do segmento), que pede 1% de ganho real, mas a companhia não está em um bom momento para isso. Se isso for aprovado, mais pessoas podem ser demitidas — indica, acrescentando que cortes podem atingir também a CBC, empresa de munições que faz parte do grupo e tem sede em Montenegro.
Nuhs analisa que o mercado está "sufocado", e reclama da falta de compreensão do governo federal sobre a Taurus como uma empresa estratégica no setor de defesa no país. Um dos exemplos apresentados por ele é o regramento sobre o calibre 38, historicamente permitido, mas que agora não pode ser usado nem por vigilantes.
— Participamos de um grupo de trabalho para discutir (o novo regramento), mas não adiantou de nada. Quem vai sofrer é a cidade de São Leopoldo — projeta.
O gestor ainda destacou que o percentual de exportações da Taurus, que hoje está na casa de 90% da produção, pode aumentar ainda mais. Nuhs acrescenta que não está descartada a migração de mais linhas de produção para a fábrica da empresa nos Estados Unidos, a exemplo do que aconteceu em 2020. O país é o principal destino das armas fabricadas pela companhia.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo, Valmir Lodi, diz que a empresa foi procurada, mas ainda não houve retorno.
— Vamos buscar uma negociação com a empresa para o pagamento dos funcionários. Também vamos tentar falar com o governo federal para amenizar nas próximas demissões, talvez até dando incentivos ao setor — pontua.
Entendendo o novo decreto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na última sexta-feira (21) um novo decreto que restringiu mais o acesso a armas no Brasil. No novo decreto, o governo federal reduz o limite de armas a que podem ter acesso os caçadores, atiradores esportivos e colecionadores (CACs), além de implementar novos níveis de controle.
Antes as pessoas poderiam ter até quatro armas de uso para defesa pessoal, com um montante de 200 munições por armas. Agora passam para duas armas e 50 munições. Caçadores tinham o direito de 30 armas, sendo 15 de uso restrito, e agora passam para seis. Colecionadores poderiam ter cinco e agora uma. E atiradores desportivos, que tinham até 60 armas, agora voltarão a ser nivelados com restrições de quantidade para cada nível.
Ainda há regras para os Clubes de Tiros, que a partir de agora não podem mais funcionar 24 horas por dia, com horário fixo entre 6h e 22h e distância de pelo menos um quilômetro de escolas públicas ou privadas. Antes o registro das armas, fiscalização e definição eram de responsabilidade do Exército e agora passam a ser cuidados pela Polícia Federal.
Colaborou Guilherme Gonçalves
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna