Lula subiu bastante o tom das suas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Sendo o principal assunto da economia brasileira no momento, o juro foi o tema da primeira pergunta da coluna ao presidente da República na entrevista. O alvo não foi a política monetária ou o Banco Central. Foi diretamente Campos Neto, ao qual Lula se referia com frequência como "esse cidadão". Na parte mais forte e totalmente com direcionamento pessoal, falou que o presidente do Banco Central "não entende absolutamente nada de país, não entende nada de povo" e ainda que "não tem sentimento com o sofrimento do povo".
Como já tinha feito recentemente, Lula puxou o Senado para a conversa. Isso porque Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, aprovado por senadores, que Lula também lembra terem aprovado a autonomia do Banco Central.
- Esse cidadão vai ter que pensar, e o Senado vai ter que saber como lida com ele - disse.
- O dinheiro tem que girar na mão de muitos milhões de brasileiros para que a economia possa crescer. É isso que esse cidadão do Banco Central tem que entender. Para o dinheiro circular, o juro tem que ser baixo. É isso que nós queremos no Brasil, nada mais do que isso. Se esse cidadão cumprir com as suas funções, tais quais foram aprovadas pelo Senado, ótimo. Eu quero que o Banco Central funcione - acrescentou.
A decisão de ainda não reduzir a taxa Selic, porém, tem sido elogiada por Henrique Meirelles, que foi o indicado por Lula e presidiu o Banco Central nos seus mandatos. Também ainda é, com frequência, mencionado pelo presidente da República com elogios sobre sua condução da política monetária. A coluna questionou Lula na entrevista sobre esse posicionamento que acaba por ser contraditório.
- Ele (Meirelles) diz o que quiser, é livre. Ele tem 70 anos de idade, pode dizer e achar o que ele quiser.
Além disso, Lula enfatizou o diálogo que tinha com o presidente do Banco Central, como uma "combinação". Isso não existe hoje.
- No tempo que era meu ministro (Meirelles), sabe qual a discussão que a gente fazia. Sabe que, cada vez que ele aumentava 0,5 ponto percentual da taxa de juro, eu baixava 0,5 ponto percentual da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) para que o BNDES tivesse dinheiro para investir no setor produtivo, ele sabe disso. E ele sabe que no nosso governo, quando nós pegamos o governo em 2003, a taxa de juro estava em 26% e nós reduzimos a 10%, com economia crescendo 7,5% em 2010 e o varejo crescendo acima de 13%.
O Banco Central, porém, vem resistindo à inconformidade de Lula. Aliás, há quem diga que as críticas até atrasam o corte do juro, já que a autoridade monetária precisa ser ainda mais rígida para não parecer que há interferência política, o que poderia provocar o efeito rebote, de alta do dólar e da inflação. De qualquer forma, com críticas ou sem as críticas, a inflação menor está reforçando o colchão necessário para o juro cair. Só nesta semana, o IPCA-15, prévia da inflação oficial do país, desacelerou em junho com a comida mais barata e o IGP-M acelerou a deflação com força, também puxado por alimentos e combustíveis.
Trecho da entrevista:
Ouça a íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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