Era certo que o rombo contábil de R$ 20 bilhões da Americanas não ficaria apenas na planilha. A última informação impactante da gigante do varejo foi ter declarado dívidas de R$ 40 bilhões para pedir a suspensão da penhora de bens. Mas de onde saiu esse valor?
O número bilionário anterior, divulgado pela empresa ainda na quarta-feira, se refere a débitos com bancos, que pagaram valores a fornecedores da Americanas, o que não estava sendo contabilizado. Agora, estes outros R$ 20 bilhões são dívidas com credores que têm direito de antecipar a cobrança. Isso porque os contratos tem os chamados covenants financeiros, que são cláusulas restritivas que diminuem risco ao permitir a liquidação antecipada de pagamentos em determinadas situações, cujo escândalo financeiro da semana se encaixa bem.
“(...) essas inconsistências, na avaliação das requerentes, exigirão reajustes nos lançamentos da Companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa e/ou volume de capital de giro, implicando, por via reflexa, no descumprimento de ‘covenants financeiro' previstos em contratos, inclusive estrangeiros, acarretando o vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”, diz o pedido de tutela de urgência cautelar, encaminhado à Justiça.
Com isso, a rede de varejo calculou esse montante que pode ser exigido de imediato de credores. Sem ter como pagar, quebra. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro acatou a solicitação e suspendeu a cobrança até que a Americanas peça recuperação judicial, mas precisa ser em até 30 dias.
Enquanto isso, várias questões correm em paralelo. Entre elas, estão negociações com credores, que são abaladas pela recuperação judicial, já que o mecanismo suspende cobranças. Há investigações de fraude, análise de venda de ativos, medo dos fornecedores de tomarem um calote e, ainda, como ficarão as mais de 1,8 mil lojas da rede pelo país. No Rio Grande do Sul, são 65 unidades. Em Porto Alegre apenas, a Americanas emprega 290 pessoas. Um efeito dominó se aproxima.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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