Quando parece estar próxima de um desfecho, surge um fato novo na liquidação da Cotrijui, que já foi a maior cooperativa da América Latina. Enquanto já se encaminhava o leilão de bens para pagar credores, a Junta Comercial, Industrial e de Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS) declarou irregularidade no arquivamento da assembleia de credores que, em 2014, determinou a liquidação extrajudicial da cooperativa.
Entre os motivos, estão quórum insuficiente e aviso prévio da reunião, diz o advogado Robinson Enio Cloth, que representa um grupo de associados. A partir dessa decisão, associados convocaram uma nova assembleia agora para o dia 21 de dezembro.
- Se tiver quórum, será novamente votada a liquidação extrajudicial. Conforme evoluir, o próximo passo pode ser eleger um novo quadro social - diz Cloth, que informou ter acrescentado a decisão da Junta Comercial como fato novo em um recurso da liquidação judicial da Cotrijui, que corre no Judiciário.
José Paulo Japur, sócio da Brizola e Japur Administradora Judicial, nomeada para o processo, lembra que a liquidação judicial foi decretada em 2018 e que, portanto, não haveria chancela judicial para a nova assembleia. Em outubro, a Justiça julgou improcedentes 13 recursos contra a sentença de liquidação e retirou um efeito suspensivo, o que abriu espaço, na ocasião, para leilão dos bens.
- Esses recursos também fizeram referência à suposta irregularidade no arquivamento da ata de 2014 na Junta Comercial, o que foi superado pelo Tribunal - acrescenta Japur.
Por ser cooperativa, a Cotrijui não vai à falência. O segmento tem uma lei própria para tratar da quebra do negócio. Em 2014, com a crise financeira, houve a assembleia de associados que aprovaram que ela entrasse em liquidação extrajudicial. Um tempo depois, provocada por uma ação de um credor, ela foi convertida em liquidação judicial, o que permitiu a nomeação de um administrador, que arrendou unidades de armazenamento e fez a gestão dos supermercados. No mercado, a avaliação é de que a cooperativa colapsou, atingindo dívida de R$ 2,5 bilhões com 11,5 mil credores.
Os bens da Cotrijui são estimados inicialmente em R$ 383 milhões, não suficientes para pagar todos os credores, o que é usual em falências tradicionais. São 591 hectares de terra e armazéns e silos com capacidade para 704 mil toneladas de grãos. São 165 imóveis, vários reunidos nas chamadas unidades de armazenamento, além de oito supermercados em operação.
Os problemas financeiros começaram nos anos 2000, de passivos trabalhistas e tributários a não pagamento de associados e fornecedores por frustrações de safra ou problemas de gestão. Há credores esperando por mais de uma década para receber pagamentos. Em 2019, o Ministério Público do Estado apresentou denúncia contra quatro ex-executivos da cooperativa, que tem sede em Ijuí, no noroeste do Estado. A acusação é de apropriação indébita de grãos de associados.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.