Após mais de duas décadas de idas e vindas no projeto, o complexo Belvedere, em Porto Alegre, está mais próximo de sair do papel. A parte de infraestrutura, como ruas e iluminação pública, está praticamente pronta. O próximo passo é levantar os empreendimentos. Desde que foi inicialmente concebido, em 1995, sofreu várias adequações. A ideia agora é que o espaço funcione como um bairro planejado, com hipermercado, serviços, torres residenciais e comerciais e um shopping aberto, contou o empresário André Meyer, diretor da Condor e idealizador do mega complexo. Confira trechos da entrevista para o podcast Nossa Economia, de GZH, abaixo, e a íntegra no final da coluna.
Qual é o sentimento de ver o projeto sair do papel após duas décadas?
Nós começamos com essa ideia em 1995, quando o mundo e o Brasil eram completamente diferentes. O projeto andou para frente e para trás. Felizmente, nos últimos anos, a prefeitura se mostrou bastante preocupada em desenvolver novos projetos, e aí deslanchou.
O projeto passa por obras de infraestrutura, pavimentação e instalação elétrica. Em que fase está agora?
O projeto, que originalmente seria um grande shopping, virou um loteamento. Estamos hoje com água, esgoto e as ruas praticamente concluídas. Para as ruas, falta a última camada, que a empreiteira vai colocar depois que estiver tudo pronto, para não estragar. Desde que o projeto foi aprovado, houve algumas mudanças na legislação, como a obrigação de lâmpadas LED. Também mudamos a cobertura da calçada, que faremos nas próximas semanas. Isso necessitou um novo projeto, que está em fase de aprovação, e que vai atrasar a obra em cerca de 90 dias. Mas a parte da rua está praticamente concluída. Estamos chegando no final do binário da Rua Antônio Carlos Tibiriçá, que terá sentido único para a Avenida Cristiano Fischer. Também terá uma via de sentido único ligando a Cristiano Fischer em direção à Terceira Perimetral. Não sei quando será liberado para o tráfego, pois isso depende mais da prefeitura do que de nós. A nossa parte vai estar pronta em questão de dias.
Pelo projeto atual, continua a perspectiva de ter um shopping, um hipermercado e as torres?
Exato. Na Avenida Cristiano Fischer, serão duas torres. A quadra seguinte, de 20 mil metros quadrados, alugamos em janeiro de 2000, há 22 anos, para a companhia Zaffari. O projeto deles está pronto, poderiam começar as obras hoje, se quisessem, mas, em função da pandemia, estão atualizando o projeto. A questão do shopping também está sendo avaliada, porque, quando começamos, em 1995, a nossa ideia era ser o operador do shopping, mas ficou mais do que comprovado que essa não é a nossa vocação. Também existem novos conceitos de shopping, com espaços abertos, serviços. Nós estamos conversando com dois ou três interessados para ver quem vai assumir. O nosso objetivo é fazer um pequeno novo bairro. Queremos fazer um projeto onde as pessoas queiram participar, ir para fazer os seus negócios, morar. A ideia é fazer um local que, quem quiser, possa passar a vida sem precisar sequer ter um carro.
As torres serão residenciais?
Não só. A torre que está hoje aprovada é comercial, mas a minha expectativa é que terá residencial e comercial. Isso quem decide é o mercado.
A outra torre aprovada também é comercial?
Sim. Mas isso acaba mudando. Já teve gente querendo colocar hotel, escritório, hospital. O que vai acontecer efetivamente eu não sei. A nossa parte é fazer a infraestrutura.
O projeto está sendo iniciado, mas tem coisas que ainda vão ser definidas, então?
Vai ser reavaliado. Quando o projeto foi feito, há alguns anos, antes da pandemia, era outra expectativa. A nossa ideia hoje é fazer ali um bairro icônico, para que as pessoas queiram morar, trabalhar e viver lá.
As residências seriam nessas torres? Ou há outro espaço no projeto?
Não sei se isso vai acontecer, não estou assumindo nenhum compromisso, mas, em vez de construir só um shopping que ocupe a quadra, teríamos a condição de construir algo menor e usar uma parte do espaço para novas torres. Mas isso é o mercado quem decide.
Como será o shopping? E o hipermercado? Essas coisas já estão definidas? Moradores da região esperam por essas novidades, até com o objetivo de valorizar a região.
Aquela região já está se valorizando, foi construída uma série de prédios perto, muito bem conservados. O Zaffari que está aprovado é um hipermercado. Será o último dentro da região de Porto Alegre, por conta de uma lei que define o tamanho do supermercado e sua localização. Vamos ter em torno de 20 mil metros quadrados de área de loja. O shopping vai ser na linha de um shopping aberto, com lojas, talvez uma grande operação individual. Poderá ter blocos específicos, outros mistos, com prédios mais altos e misturando residencial e comercial. A ideia, de certa forma, é replicar os bons tempos da Rua Padre Chagas. Inclusive em relação à segurança. Além da pública, a ideia é fazer um reforço de segurança com muitas câmeras instaladas. Vai ter um posto, que pode ser da Brigada Militar, e um também que vai ser da segurança privada, que vai ser contratada pelos diversos síndicos, lojistas.
E foco em serviço? Gastronomia, saúde?
Essa é a ideia. Ter tudo para poder fazer a pé.
O projeto é conhecido como Belvedere. Essa marca vai ficar?
Espero que sim, mas eu perco o controle da situação na hora que eu fechar o negócio. Chamar o Zaffari que vai ter ali de "Zaffari Belvedere", por exemplo, foge completamente da minha capacidade. Se eles quiserem colocar esse nome, eu ficaria muito orgulhoso, mas eu não apito nada.
Quais são as outras empresas que a gente já pode contar que estão trabalhando no projeto?
A única que está definida é a Companhia Zaffari. As outras estamos em conversas.
Quando terá algo em funcionamento no Belvedere? A ideia é inaugurar tudo de uma vez ou por etapas?
Vai ser tudo por fases, pois é uma obra muito grande. A nossa expectativa é que tudo vai acontecer ao longo de 10 anos. Vai depender muito do mercado. Se tiver muito comprador, as atividades vão acontecer mais rapidamente. O Zaffari costuma fazer suas unidades de uma vez só, mas já está fazendo várias obras na cidade. Eles vão começar a obra muito em breve, mas quando vai ficar pronta não depende de mim.
Não temos um prazo, então?
A prefeitura deve liberar as ruas para o tráfego em março ou abril, depois do Carnaval. As pessoas já vão poder passar por ali, inclusive trafegar. Claro, vai ter obras, caminhões andando de um lado para o outro, mas vai dar para enxergar bem.
Já noticiamos que o projeto poderia movimentar R$ 800 milhões de reais, mas esses números foram projetados há bastante tempo. Uma informação da prefeitura também mostrou que poderia se movimentar 9 mil empregos entre obras e operação. Esses números foram atualizados?
Empregos deve ser a mesma coisa, porque a tecnologia é a mesma. Só que não é instantâneo, tudo ao mesmo. Quanto ao valor do investimento, deve aumentar um pouco, mas eu não tenho a conta atualizada. Com certeza vai aumentar, porque nos últimos tempos o preço de tudo subiu muito.
Como que o senhor vê Porto Alegre hoje?
Porto Alegre está ficando uma cidade bonita. Já foi, lá no início do século 20. Tinha uns casarões lindos. Isso tudo desapareceu, foi substituído por alguns prédios bonitos, outros nem tanto. E agora eu eu acho que a cidade está ficando muito bonita, muito gostosa de morar. A sensação de segurança, que é uma das coisas mais importantes. Porto Alegre está mais simpática para o empreendedorismo, em qualquer sentido, não só para a construção civil. Não adianta eu construir um prédio e ficar vazio. Tem que ter pessoas que queiram empreender em Porto Alegre, ficar em Porto Alegre para ocupar esses prédio. Uma coisa puxa a outra.
Tem alguns empreendedores que só vem se a iniciativa for tomada por outros empreendedores, certo?
Sim. Vai junto. Quer ver se o vizinho dá certo, e aí faz também. O mundo é assim, isso está acontecendo.
Ouça a entrevista para o podcast Nossa Economia, de GZH:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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