Qual será a pedida do dia para o Ministério da Economia (ou da Fazenda) do novo governo Lula? Os cotados vão e vêm todos os dias, cercados de especulações. Há neste movimento uma estratégia já conhecida do presidente eleito de fazer balões de ensaio, expondo nomes para ver as reações. Quem mais tem aparecido é o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que, no entanto, diz não ter sido convidado ainda. Ontem, até chegou a se cogitar que ele ficaria no Planejamento, com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, assumindo a Fazenda. Henrique Meirelles e Pérsio Arida estão aparecendo menos nos últimos dias.
Mas será que o mercado já "precificou" Haddad? Isso significa estabelecer o valor de ativos, como ações e outros investimentos, a partir de um cenário no qual ele estaria no comando da economia do país. O que ocorreria com o juro, com o dólar, com as empresas na bolsa? O certo é que o mercado financeiro, por enquanto, não gosta muito dele, o que pressiona dólar e juro para cima e ações para baixo.
A coluna perguntou para três profissionais da área de investimentos:
Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset
"O mercado não sabe se será ou não Haddad, nem qual Haddad seria esse possível ministro. Na dúvida, considerando apenas o que foi dito, precifica um cenário ruim, de descontrole. Pode melhorar muito, mas também pode piorar mais. Mercado está observando mais atentamente três pontos: evolução da PEC da Transição no Congresso, considerando o tamanho do gasto adicional e quanto tempo será dado em anos; quem será o ministro da Economia e quem o acompanhará no planejamento; e quais sinalizações serão dadas quanto ao novo arcabouço fiscal. Haddad poderia ter aproveitado o espaço no evento da Febraban para acalmar o cenário. Se Lula ou o ministro nomeado sinalizarem na linha da responsabilidade fiscal, mercado reagirá positivamente. Nunca esquecendo que fazemos as contas dos impactos das despesas orçamentárias para além dos quatro anos de mandato, mirando a sustentabilidade do tamanho e pagamento da dívida pública."
Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos
"O mercado trabalha com várias opções, mas já precifica o pior cenário. Historicamente, o PT vai testando nomes. É uma estratégia, principalmente com o mercado, que não precificou bem Haddad. Aceitou melhor ele no Planejamento e Alckmin na Fazenda, com redução no juro futuro. Não tanto pelo dólar. Curva de juro é risco na veia. Trabalhamos com o nome de Haddad, mas qualquer um que seja um pouco melhor, o mercado aceita melhor, ao menos para o primeiro ano de governo. Vale ressaltar que temos um mercado global com inflação em voga e alta de juro mundo afora, mas se tiver reabertura de China, teremos uma boa exposição a commodities."
Rafael Rigotto, sócio da Messem Investimentos
"Evitamos opinião política, mas é difícil separar o mercado dela. O novo governo lançou balões de teste, colocou Haddad para discursar. Acho que o mercado já deu o recado. Corrigiu, mas não precificou ainda. Se confirmar, vem a precificação real."
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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