Combustível muito usado por taxistas e motoristas de aplicativo, o preço do gás natural veicular (GNV) está quase R$ 1 mais alto do que a gasolina no Rio Grande do Sul. De acordo com o último levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), enquanto o litro da gasolina comum foi vendida por uma média de R$ 4,99 no Estado, o metro cúbico do gás natural saiu por R$ 5,90.
Essa diferença, de 18,2%, chama a atenção porque o GNV foi muito procurado, principalmente no ano passado, por profissionais de transportes, que buscavam uma alternativa à gasolina, que acumulava forte alta de preços. Além de estar, à época, mais barato, o gás natural tem um rendimento maior do que o outro combustível fóssil. A diferença de agora, porém, provoca a reflexão: ainda está valendo a pena usar o substituto à gasolina?
Consultor energético, Anderson de Paulo avalia que, antes de mais nada, é preciso levar em consideração que, além do preço do metro cúbico em si, há também outros custos, como de instalação e manutenção. Em março, por exemplo, o processo de conversão e instalação do chamado "kit" de GNV estava custando cerca de R$ 5 mil.
— Além de investir R$ 5 mil, o cilindro de GNV precisa passar por inspeções periódicas no Detran. O seguro do carro fica mais caro. Para valer a pena, não basta ver a diferença de valor do metro cúbico por litro, que até um tempo atrás, era vantajosa. Precisa ver também o quanto tu roda. Precisa rodar muito, e demora algum tempo para ter o retorno do investimento. Mesmo quando estava competitivo, precisava fazer essa avaliação.
Ou seja, mesmo quando o preço estava competitivo — e esteve por um tempo, como é possível ver na tabela abaixo —, os custos adicionais exigiam que houvesse uma boa rodagem para ter um retorno rápido do investimento. Agora, com a gasolina baixando, provocada pela queda de tributos federais e estaduais e também pela redução do barril do petróleo, não chega a ser vantagem nem para o profissional que usa o carro para trabalhar, avalia Anderson:
— Quando tu coloca GNV, ele tem que estar abaixo do preço da gasolina para ser interessante para o frotista. E para ser interessante para um motorista usual, tem que estar muito barato, cerca de 50% mais barato que o preço da gasolina. Com esse atual preço da gasolina, não está valendo a pena a conversão, economicamente falando.
Há também quem leve em consideração os impactos ambientais. De fato, dos derivados do petróleo, diz o consultor, o GNV é o que emite menos gases poluentes. Mas ele lembra que o etanol, quando quer se falar em meio ambiente, acaba sendo uma opção melhor, principalmente por vir de uma fonte renovável.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Rio Grande do Sul (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua, avaliou essa queda na competitividade. Segundo ele, o descompasso entre um preço e outro fez com que as vendas de GNV despencassem no Estado.
— A venda de GNV caiu 40% por esse descasamento. Quem tem carro a gás está abastecendo com gasolina. A Sulgás, Compass hoje, tem negócios contratados a longo prazo. É um modelo de precificação diferente do que o da Petrobras faz com as distribuidoras de líquidos de fóssil. A revenda tem pedido à Sulgás um movimento emergencial para que o segmento não se desestruture. O consumidor faz seus cálculos. Não há estímulo para instalar os cilindros no carro.
Recentemente, até houve uma redução de R$ 0,40 no GNV, motivada pela isenção dos impostos federais até o final do ano. Mas não foi uma política exclusiva para o gás natural, o que fez com que preços de outros combustíveis também caíssem. Depois da queda, voltou a subir R$ 0,15, motivado pela elevação forte do preço de pauta, usado para cálculo do ICMS a ser recolhido pelo governo do Estado.
O gás natural tem registrado aumentos fortes desde o ano passado. Também com o petróleo como referência, a Petrobras aplica o reajustes para as distribuidoras. No Rio Grande do Sul, é a Sulgás. Recentemente, a Bolívia informou que iria reduzir o fornecimento ao Brasil. Em entrevista ao podcast Nossa Economia, o presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável, Márcio D'Agosto, disse que o preço alto é uma tendência mundial para o gás. Aliás, tem sido uma das grandes pressões da inflação da Europa, que teve corte no suprimento pela Rússia, em resposta a sanções econômicas.
Coluna Giane Guerra (Giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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