Gaúcha que ajuda empresas com indicadores ambientais, a Ecofinance Negócios trabalhou para vender um milhão de créditos de carbono da Statkraft Brasil, de energia, à indiana EKI Energy Services. Eles são uma espécie de certificado, validado por algum organismo internacional, que comprova que determinada atividade reduziu as emissões do gás carbônico. O valor da negociação, porém, não é informado.
Nesse caso específico, a Ecofinance aprovou o projeto no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da Organização das Nações Unidas (ONU) e conduziu as etapas de monitoramento e emissão dos créditos em 2021. Na prática, a Statkraft, a partir das usinas eólicas Seabra, Macaúbas e Novo Horizonte, todas instaladas na Bahia, conseguiu os créditos, que equivalem à emissão de 452 mil veículos percorrendo 50 quilômetros por dia durante um ano, e os vendeu.
O mercado de créditos de carbono cresce porque empresas querem vincular ao seu negócio a sigla ESG (environmental, social and governance, ambiental, social e governança, em português). A maioria das companhias não faz a própria compensação, mas paga outras para fazerem. Para comprovar e receber o certificado, passam por um processo conhecido como ciclo de aprovação, que parte da elaboração do projeto, o "ok" de entidades internacionais e comissões brasileiras, monitoramento e venda.
Saiba mais curiosidades sobre o mercado de carbono. São respondidas por Eduardo Baltar, diretor da Ecofinance.
1) Afinal, o que são créditos de carbono?
São uma espécie de certificado que comprovam que determinada atividade reduziu uma tonelada de gás carbônico. Esse certificado comprova que um projeto, iniciativa ou empresa reduziu as emissões, e elas foram certificadas de acordo com algum organismo internacional.
2) Que tipo de empresa consegue produzir créditos de carbono?
Diversos tipos de empresas e projetos podem buscar a certificação: na área de energia renovável, parques eólicos, solares, a partir de biomassa. Também projetos de gestão de resíduos, como aterros sanitários, que utilizam biogás para gerar energia. Também dá para compensar projetos de substituição de combustíveis. Outro tipo são projetos relacionados à conservação de florestas. Mas atenção: o mercado de carbono só beneficia iniciativas voluntárias. Se a conservação acontece por obrigação legal, isso não dará direito aos créditos de carbono.
3) E que tipo pode comprar?
No Brasil hoje, o único setor que está obrigado a compensar a emissão é o de distribuição de combustíveis. Eles podem comprar crédito através do programa RenovaBio. Esse setor faz parte do mercado regulado de crédito de carbono, porque tem uma regulação por trás. Mas está cada vez mais comum os mercados voluntários. Ou seja, empresas que não têm meta de redução de emissão de gás carbônico, mas querem compensar mesmo sem obrigação.
4) Como funciona o mercado de venda e compra de créditos?
Existe bolsa de negociação de crédito de carbono fora do Brasil. Aqui no país, existem alguns movimentos para que isso aconteça. No RenovaBio, os créditos são todos comercializados via B3. Há ainda a Bolsa Verde do Rio. Mas, a grande maioria das negociações de crédito de carbono são bilaterais. São empresas que têm interesse em comprar, empresas que estão vendendo e empresas que fazem ali seu acordo para venda e compra de carbono. Mas o preço é variável conforme demanda, que está aumentando.
5) Uma empresa que produz energia para vendê-la no mercado livre, por exemplo, pode também certificar créditos de carbono e vendê-los, ganhando uma receita extra?
Sim. Os créditos de carbono vão ser um adicional de receita ao seu projeto. Um projeto que gera energia, por exemplo, vai ganhar o recurso pela venda de energia. E vai, além disso, receber uma receita adicional pela venda de crédito de carbono.
6) Os créditos têm validade?
A geração de crédito é referente ao que já foi evitado de ser emitido. Quando aprovamos o projeto, ele fica aprovado para gerar crédito em um período de tempo, que atualmente é de 10 anos. Não há necessariamente de gerar um crédito anualmente. Porque se não, teria custos de auditorias anuais. Você pode acumular uma quantidade de crédito por anos e depois vendê-los.
7) E para quem compra, tem alguma validade?
Os créditos também valem para compensar emissões que já foram feitas. Se a empresa emitiu 10 toneladas de gás carbônico em 2020, ela pode comprar 10 créditos de carbono para compensar. Se ela quer manter uma política ambiental, terá que continuar comprando ao longo do tempo.
8) Qualquer empresa que adota medidas sustentáveis pode gerar créditos de carbono e comercializá-los?
Para gerar crédito de carbono, existe um processo de certificação que tem um custo. Para um projeto ou empreendimento vender crédito de carbono, precisa ser analisado a viabilidade dele do ponto de vista de redução de carbono. Ou seja: quanto gás carbônico é reduzido? Isso vai determinar quantos créditos ele poderá ter, qual será a receita com esses créditos e se vale a pena passar pelo processo de certificação.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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