Está marcada para a semana que vem a assembleia de associados da Cooperativa Piá, tradicional marca gaúcha fundada em 1967. Prejuízos nos anos recentes e outros descontentamentos marcam o momento. O presidente da Piá, Jeferson Smaniotto, deu entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
A situação financeira da empresa tem gerado algumas contestações e descontentamentos em relação ao prejuízos que foram registrados pela cooperativa nos últimos anos, que acabam sendo divididos entre os associados. O senhor pode comentar sobre os prejuízos?
Em primeiro lugar, a operação da cooperativa é saudável. No que ela precisa mesmo, e estava sendo feito no nosso cotidiano. Sentimos uma necessidade de fazer com uma velocidade maior e uma profundidade maior as ações de restruturação da cooperativa. Isso incluiu a avaliação de profissionais que estavam trabalhando. Avaliação do comportamento do consumidor. Avaliação do nosso mix de produtos. E trabalhar, visando o equilíbrio, porque a cooperativa tem o ciclo completo da cadeia produtiva do leite, desde fornecimento de insumos a produção leiteira na propriedade, à coleta do leite, processamento e industrialização, e a venda. São várias etapas da cadeia leiteira que são responsabilidade da cooperativa. E 2021 foi um ano nada confortável para quem trabalhou no setor lácteo, em função da diminuição do poder aquisitivo das pessoas. Produtos de maior valor agregado deixaram de ser consumidos. E junto com isso, a pandemia. No início da pandemia, tinha auxílios, mas foi diminuindo o número de pessoas contempladas. Mas se nós falarmos da Piá, quando se fala em números contábeis, financeiros, nesses 55 anos de cooperativa, nunca teve um funcionário com atraso no salário. Nunca foi atrasado o pagamento de leite para produtores, que são os principais responsáveis pelo funcionamento da cooperativa. O leite é a matéria-prima para a indústria trabalhar.
Há risco de isso acontecer a partir de agora?
Não há preocupação nenhuma. Nós estamos em uma restruturação. Está tudo negociado, estruturado. O engraçado é que gostaria de saber quem são os associados e qual o envolvimento que eles têm com a cooperativa. Essas pessoas precisariam se identificar para saber qual o relacionamento que eles têm com a cooperativa. Se é produtor, consumidor.
Tem um ouvinte que pede para ser identificado: Lenon, de Nova Petrópolis. Ele diz que terá uma manifestação na frente da cooperativa pedindo assembleia presencial. "O presidente não quer fazer, quer fazer a digital para não dar explicações", é o que diz a mensagem.
A questão é o que tem na legislação. Nós temos que ter coerência. Em 2020, a Piá fez uma assembleia no dia 13 de março. Foi presencial. E logo depois veio a pandemia, com as questões sanitárias. Em 2021, a gente convocou presencial, mas depois foi tudo proibido e tivemos que mudar, fazendo ela digital. E ela proporcionou um número bem superior do que a média dos últimos anos de participação. Nós temos um estatuto e uma lei, que tem um determinado prazo para fazer convocação, e a prestação de contas do associado deve ser feita até o último dia do primeiro trimestre do ano subsequente. Nós temos até 31 de março para fazer prestação de contas dos associados. A questão de fazer presencial ou não foi tomada em função das incertezas que a pandemia oferecia naquele momento da convocação do edital, que foi feito dentro do prazo legal para convocação. E também uma oportunidade de associados de toda região de atuação da cooperativa participar.
Não poderia ser híbrida?
Ela pode ser híbrida, presencial, mas com o processo digital. Ela pode se dar no momento presencial, mas tudo que for delegado e votado, precisa ser digital.
Os associados que nos procuraram querem estar presentes para colocarem questionamentos e evoluir na discussão sobre a situação financeira. Quero aproveitar para voltar na situação financeira. A cooperativa está apresentando prejuízos, e por ser uma cooperativa, precisa dividir esse prejuízo pelos associados. Pela relevância da empresa, da marca para o Rio Grande do Sul, isso também gera uma preocupação. Há relatórios setoriais do setor bancário que fazem ponderações ao crédito para cooperativa. O que a cooperativa está fazendo para melhorar a situação financeira?
Começamos em novembro com uma restruturação de gestão, profissionalização, redução de custos. A gente está em um equilíbrio organizado. Os demonstrativos e desempenhos de janeiro, fevereiro e março já vêm demonstrando uma recuperação da cooperativa em questão de resultados. Não há riscos de o associado deixar de receber leite. A cooperativa não está insolvente. Nós temos um patrimônio bem superior. Nosso faturamento deve ser considerado também quando se fala em prejuízo ou resultado negativo. De acordo com faturamento, se tem um custo financeiro e a depreciação, que são registros contábeis. Mas a depreciação, às vezes, soma no resultado negativo da operação, mas ela só movimenta patrimônio e dinheiro. Essas coisas a gente vai fazer item por item, explicado. Acho que a maior exposição que a cooperativa tem é fazendo na modalidade digital, com tempo, prazo e oportunidade que de toda a região do Estado nosso associado possa participar. Eu tenho feito, e ainda estou realizando, reuniões no interior, na região do planalto médio, nas Missões, com produtores, para explicar.
Exatamente o que será feito? Tem potencial de reverter esse prejuízo ainda em 2022? Um dos questionamentos que estamos recebendo é que teve muita mudança na diretoria executiva da cooperativa também, e que isso acaba atrapalhando a gestão. A cooperativa vai reverter e ter um resultado positivo em 2022?
Vai. Tem perspectiva, porque estamos trabalhando com produto de valor agregado em escala. Nós estamos trabalhando e construindo parcerias fortes para ganhar em escala. Estamos pegando empresas de porte, que vão contribuir, onde nós seremos prestadores de serviço, que a gente tenha ociosidade na nossa planta. E também vamos diminuir nosso mix de produtos, que diminui custo de perdas em cada etapa do processo de produzir um sabor ou outro. A gente vai permanecer com todas as linhas, mas com menos sabores. Vamos deixar com os sabores que realmente tenham mercado, que são consumidos e com margem de contribuição. E Giane, posso te dar a garantia que, na cooperativa, ninguém perde dinheiro.
Presidente, queremos acompanhar esse assunto, e por favor, nos comunique qualquer informação em andamento desse trabalho de vocês para recuperação das finanças da cooperativa.
Nós vamos passar o nosso foco, nosso projeto, o que temos desenhado, vai ser detalhadamente explicado na assembleia. Não vai sobrar dúvida. Os associados vão ter, mesmo digital, mais facilidade. Vai ter mais gente participando. Vamos fazer um trabalho de apresentação, de resultado, de foco. Quais são os pontos primordiais que foram atacados e com a nova gestão. Muitos gestores solicitaram desligamento por vontade própria. Outros, solicitaram para outras oportunidades. Mas a cooperativa não fez desligamento em massa. As pessoas, por vontade própria, deixaram de ser colaboradores da cooperativa. Mas agora estão buscando no mercado de trabalho qualificação da mão de obra. Profissionais que vêm do mercado. Então, a gente está nessa busca incessante, e controle de redução de custos.
Sobre a restruturação, a coluna noticiou também um processo semelhante da cooperativa em 2019. Relembre: Com demissões na Serra e novos centros de distribuição em outros Estados, Piá reestrutura negócio
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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