O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
A palavra do ano escolhida pelo Dicionário Collins em 2021 na verdade é uma sigla: NFT. O termo é uma abreviação de non-fungible token (token não fungível, na tradução para o português). Esse tipo de tecnologia surgiu em 2012, mas foi no ano passado que virou uma grande tendência, movimentando bilhões de dólares em empresas e também na carteira de investidores. Mas afinal, o que é NFT?
— O NFT é a forma de eu tornar um arquivo digital, como um vídeo ou imagem, único. Você pode até copiar coisas parecidas, mas o arquivo que está no NFT é único. É como se você estivesse comprando uma obra de arte com exclusividade, original. E o NFT me certifica que aquilo que estou comprando é original. E a partir disso, consigo colocar valor em cima do arquivo, podendo valorizar ou desvalorizar meu certificado, e vendê-lo. E aí vem toda conexão com mercado financeiro— explica o professor da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da PUC-RS, André Pase.
Na prática, então, o NFT é um certificado de autenticidade digital de algum bem virtual ou físico. Ele certifica que aquele item é de propriedade de um usuário em específico. A garantia da propriedade de um NFT é feita pelo blockchain, um grande banco de dados compartilhado que registra as transações dos usuários e é à prova de violação. É a mesma tecnologia usada para negociação de criptomoedas, como o bitcoin.
O maior uso, hoje em dia, é para certificar itens colecionáveis, como imagens e vídeos. Também é muito usado para certificar obras digitais. Com o avanço de universos imersivos, como jogos e simuladores de metaverso, também pode ser usado pelas empresas para certificar a venda de itens exclusivos na internet.
— Tem empresas fazendo com que pessoas possam comprar um produto tanto no ambiente físico, e aquele mesmo produto ser levado para o ambiente digital. Por exemplo, o avatar pode estar usando a mesma roupa que tu comprou no ambiente físico. E esse item que tu está usando no avatar pode ter um carimbo de NFT, comprovando a autenticidade. A Gucci lançou 30 roupas que só vão existir dentro do ambiente virtual e do ambiente físico com certificado de autenticidade — fala Gustavo Schifino, diretor de transformação digital na 4all e estudioso do tema.
Mas como empresas e investidores estão tentando ganhar dinheiro em cima de NFTs? A questão é que, assim como uma obra de arte física pode ser comprada como investimento, esperando que ela se valorize no futuro, um NFT pode ser adquirido com o mesmo propósito. Há muitos investidores que passam o dia comprando e vendendo NFT, buscando o lucro na transição.
— Tem um cruzamento peculiar entre investimento tradicional, de ações, e o mundo do colecionável, da arte. Demanda não só que tu tenhas dinheiro, mas também entender, dentro de um segmento específico, como da arte, o que pode valorizar ou não. É um misto de curador com investidor — comenta Pase.
A dica, como em qualquer investimento, é estudar bastante e ficar por dentro do universo para começar a investir. As transações acontecem em marketplaces digitais ligados aos blockchain. É também através deles que artistas e usuários podem criar NFTs e tentar comercializá-las.
E o Neymar?
No final de janeiro, uma notícia atiçou a curiosidade dos leitores. O jogador de futebol Neymar comprou dois tokens não-fungíveis da coleção “Bored Ape Yatch Club”, desembolsando US$ 1,1 milhão nos ativos, o equivalente a cerca de R$ 6 milhões, de acordo com dados do marketplace OpenSea. São obras digitais de um desenho de macaco. Inclusive, o craque está usando uma dessas obras na foto de perfil em suas redes sociais.
Além deles, outros famosos também anunciaram, recentemente, a entrada no universo de NFTs, como os cantores Justin Bieber e Enimem e o youtuber Felipe Neto. Mas o que Neymar comprou a gastar R$ 6 milhões em NFTs?
— Só o fato da gente estar falando dele na entrevista mostra o que ele comprou. Ele comprou status, reconhecimento, um item que viu que estava sendo valorizado. E além disso, ele valoriza a imagem por comprar. Não é só uma imagem, mas é uma imagem que o Neymar comprou. Se um dia ele for vender, alguém vai ver e dizer "isso foi a NFT que o Neymar comprou". É diferente de um NFT qualquer. E também consegue colocar o nome dele associado a algo moderno. Tem investimento e tem status — finaliza o professor Pase.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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