Prestes a completar 65 anos, a fábrica de doces Peccin, de Erechim, no norte do Estado, tem investido forte em expansão e lançamento de novos produtos. A empresa, que tem no seu portfólio a conhecida marca de chocolates Trento, está fechando um ciclo com um aporte financeiro de R$ 50 milhões em linhas de produção e inovação. Para falar sobre esses assuntos, além de trazer outras curiosidades sobre chocolates, o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com Dirceu Pezzin, diretor presidente da empresa. Confira:
Qual a estrutura da empresa?
A Peccin é uma empresa fundada por três em irmãos há 65 anos. Iniciou produzindo somente candies, ou seja, balas, pirulitos e gomas de mascar. E cresceu muito nesses últimos anos. Há 10 anos, começamos a produção de chocolates que hoje é um sucesso com a marca Trento. Temos uma estrutura de 70 mil metros quadrados e 1.040 funcionários diretos, além de 200 a 300 indiretos.
E todos eles ficam na sede?
Sim, na sede aqui em Erechim, onde é feita a produção dos doces. Temos também centros de distribuição em Maceió (AL) e em Serra (ES), além do maior, que fica em Erechim junto à fábrica.
Veja a entrevista também em vídeo:
E vocês estão fazendo um investimento grande?
Sim. Nós não paramos de investir mesmo com pandemia, com crises. Achamos que toda crise gera uma oportunidade. Essa é nossa forma de pensar e de agir. Investimos forte nos últimos três anos e estamos finalizando um investimento neste momento. E vamos investir mais forte ainda nos próximos cinco anos. Criamos um nicho diferenciado, principalmente no chocolate com a marca Trento, e estamos acreditando firmemente neste mercado e no potencial de crescimento da empresa.
Vamos detalhar um pouco. Vocês estão finalizando um investimento agora. Que investimento foi esse?
Nos últimos três anos, já investimos cerca de R$ 30 milhões. E estamos, agora, finalizando mais R$ 20 milhões, chegando a um total de R$ 50 milhões. O aporte foi em linhas novas de produção para chocolate e ampliação da área de estocagem com refrigeração, porque o chocolate precisa ser muito bem acondicionado para chegar ao consumidor. A finalização neste ano é para um lançamento inédito de um produto diferenciado, que, com certeza, vai alavancar muito as vendas. Vai surpreender bastante os consumidores por seu sabor, textura. Vai ser algo muito especial.
Chocolate?
Sim, chocolate. Recheado, com várias camadas, algo muito distinto.
E alguma inspiração para criar esse novo produto?
Normalmente, temos uma equipe de desenvolvimento com gestores que trabalham fortemente em testes. Fizemos mais de 50 até cem testes por mês. Sempre temos alguma inovação na prateleira. Este produto é bastante diferenciado, que vai lembrar alguns que já existem, mas em um formato distinto. Com certeza, vamos alavancar nossas vendas e trazer um produto ao mercado que ainda não tem. Procuramos sempre trazer algo novo. Não gostamos de copiar produto, mudar sabor.
Não podemos dizer qual é o produto, mas podemos dizer que vai dar para olhar todos produtos de vocês e dizer "não é nada disso"?
Sim, vai ser diferenciado. Principalmente seu recheio, sua textura. As camadas serão distintas. E quando você provar o produto, você vai dizer "uau!". Nossos produtos, quando você experimentar, principalmente chocolates, têm que ter essa empolgação.
O senhor falou que tem uma equipe que fica testando. O pessoal fica comendo chocolate?
É isso. É complicado, mas quanto mais se come um produto bom, mais se gosta. O importante é isso. Com chocolate, você experimenta uma vez e, se não gostar, não consome de novo. Então, as pessoas que estão desenvolvendo, consomem o produto com muito prazer, porque vão testando texturas diferentes, formatos diferentes. É uma realização pessoal de todos que estão desenvolvendo fazer nascer um novo produto.
Quanto tempo demora para desenvolver chocolate?
Se você só mudar textura, sabor, é mais rápido porque você está mudando apenas o sabor ou pequenos elementos. Quando você desenvolve um produto com novo formato, uma nova tecnologia, ele pode levar até um ano. São sete, oito meses para comprar os equipamentos, mais quatro ou cinco meses para sentar a produção e desenvolver. São processos demorados, principalmente se quiser fornecer uma inovação.
E esse produto vai exigir de vocês uma nova linha de produção?
Isso. Essa linha que nós estamos finalizando agora. É uma adaptação de uma linha, que aumenta sua capacidade e nos dá condições de mudar alguns elementos do Trento. Será um produto que vai alavancar, sozinho, de 10% a 15% das vendas. E com grande potencial de crescimento para o futuro.
Mais detalhes no programa Acerto de Contas (domingos, 6h, na Rádio Gaúcha):
O portfólio de vocês hoje tem quantos produtos?
De chocolates, tem mais de 50. Se olharmos com candies, temos cerca de 200. O portfólio é bastante grande.
O senhor falou também que vai ter um novo investimento. Não é para esse produto?
Não é. A Peccin está crescendo fortemente no setor de chocolates. Éramos uma empresa só de candies, mas hoje o chocolate já representa mais de 50% do faturamento. Há um crescimento muito grande em um nicho muito difícil de crescer. Sabemos que chocolate é um produto que os consumidores dão uma chance. Experimenta uma vez, se não gostar, não compra mais. E o Trento tá fazendo exatamente o contrário. As pessoas compram uma vez, são fisgadas e continuam consumindo. Essa é a nossa grande filosofia. O nosso chocolate tem 38% de sólidos de cacau. Isso é importante falar. Os chocolates brasileiros precisam ter 25%. O que são sólidos de cacau? Manteiga de cacau, cacau e líquido de cacau. Quanto mais cacau, ele tem mais qualidade. Chocolate europeu, para se chamar chocolate, precisa ter 32%. Tem um custo mais caro, mas também oferece uma qualidade melhor do produto. A Peccin inicia com 38% de cacau. Então, é um produto com menos açúcar, mais cacau, e tem mais benefícios para quem consome, que sente a diferença.
E o investimento vai ser um aporte?
Existe um planejamento para triplicar o faturamento em cinco anos. São investimentos fortes. Estamos ainda buscando como fazer esse aporte financeiro. Serão, realmente, investimentos nunca feitos até então. Existe uma oportunidade grande, e estamos estruturando essa nova arrancada.
E há possibilidade de construção de nova unidade? Ampliação?
Ampliação da unidade local, com chegada de linhas que vão nos levar a outros segmentos do mercado, principalmente na área de chocolates. A ideia é buscar um share maior no mercado. É um desafio grande, mas acho que tem oportunidade para produtos diferenciados. Queremos fazer um produto que tenha acesso a qualquer consumidor, mas com qualidade europeia.
Vocês vendem para onde?
Exportamos para mais de 70 países, o que dá aproximadamente 30% da produção. Já vendemos ao Exterior há mais de 30 anos.
E querem entrar em novos mercados?
A exportação é muito dinâmica. Estamos sempre participando de um mercado, saindo de outro, porque a competitividade é muito grande. Mas no Brasil, vamos aumentar a participação no mercado de uma forma geral. Tem alguns segmentos, principalmente de supermercados, que deixamos um pouco de lado e que vamos ampliar fortemente a participação com aumento de produção e investimentos.
A conjuntura econômica que temos hoje, com câmbio alto e dificuldade com insumos, afeta vocês?
Com certeza, a alta forte de insumos nos afetou. Não falta de matéria-prima, mas sempre está chegando no limite. Os insumos aumentaram 50% ou 70%, principalmente na linha de commodities. Mas temos administrado muito bem, buscando canais diferentes, mesmo com fechamento de alguns pontos de venda. Mas também aumentamos nossos estoques de segurança de matéria-prima.
O senhor comentou antes algo que me deixou curiosa: a logística de chocolate. Imagino que seja um desafio, né?
Com certeza. O chocolate é um desafio muito grande, porque precisa enviar o produto resfriado e manter a temperatura. Se você passa por uma temperatura mais alta, ele acaba destemperando e fica meio branco no ponto de venda. Perde a cremosidade. Então, nós temos uma frota com todo o cuidado e um estoque totalmente refrigerado para o produto sair com qualidade. Depois, depende de cada ponto de venda. Mas há uma logística muito diferenciada. Os próprios depósitos, nos centros de distribuição, também precisam estar refrigerados. Não temperatura tão baixa, mas por volta de 20ºC.
O senhor falou sobre aumentar a presença nos supermercados. Isso de forma geral?
Sim, estamos falando do Brasil inteiro. Quando você começa a crescer em um segmento, você precisa optar. Se inicia no segmento do atacarejo ou em todos juntos. Criamos uma estratégia, que foi forte e acertada, começando no atacado com muita degustação, nos pontos de varejo pequenos, na distribuição específica que leva até a padaria e o barzinho. Deixamos o atacarejo e o supermercado para um segundo momento, que agora são os grandes crescimentos do momento. Atacarejos estão se destacando e estamos começando a entrar com força neles agora. Temos uma oportunidade de crescimento muito grande.
Vocês planejam ter mais centros de distribuição?
Estamos estudando mais um centro de distribuição. Ainda não definimos o local, mas haverá essa necessidade.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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