O segundo semestre de 2020 teve os preços dos alimentos como vilões. A alta do dólar e o aumento no consumo com o auxílio emergencial, somados à alta de outros custos na cadeia produtiva, estavam entre os motivos para a disparada. Em Porto Alegre, as maiores elevações da cesta básica no ano passado foram do óleo de soja (126,32%), no arroz (90,78%), na batata (69,44%), no feijão (65,83%), na banana (41,02%) e no leite (30,28%).
Na finaleira do ano, em dezembro, veio o impacto da conta de luz, que assustou muitos consumidores. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou a volta da cobrança extra, que estava congelada na pandemia, começando já pela bandeira vermelha patamar dois. Ou seja, o valor mais alto. Aqui no Rio Grande do Sul, o impacto se somou ao reajuste anual da CEEE, definido no final de novembro com impacto no mês seguinte.
Mesmo que o dólar resista a ceder, há outros fatores que levam a uma perspectiva de trégua para o bolso. Ao menos, nessas duas despesas. A chegada de safras importantes, o fim do auxílio emergencial e a passagem das festas de final de ano, que provocam um aumento sazonal de consumo de alimentos, podem puxar um recuo. Em dezembro, a cesta básica chegou a ter a sua primeira queda em cinco meses em Porto Alegre. Consultorias têm projetado uma redução mais perceptível no segundo trimestre, mas ainda sem voltar, no geral dos itens, aos preços anteriores à disparada do ano passado.
Já a conta de luz terá bandeira amarela agora em janeiro. É uma cobrança extra bem menor, mas observe que não voltará ao nível de novembro, já que ainda há esse custo e o reajuste da CEEE, claro, permanece valendo. Além disso, não afrouxe a mão no consumo, já que as temperaturas altas tendem a elevar o gasto com energia. Em especial, pelo uso do ar condicionado. Sabe-se que o problema no planejamento energético no país vem de muitos anos, mas, enquanto não é resolvido, os boletos seguem chegando.
Fique atento também para pressões maiores que devem pesar sobre o bolso em 2021. Diversos serviços não tiveram reajustes em 2020 por falta de espaço no orçamento do consumidor e estão com aumentos represados, prestes a ocorrerem quando a economia tiver retomada.
Outro alerta é para o preço dos combustíveis. A vacinação com a retomada da economia eleva a circulação de pessoas, aumentando o consumo de gasolina e diesel. Com produção ainda reduzida, o petróleo tem trazidos altas consecutivas. E, sem o dólar cair, a Petrobras terá que aumentar os preços nas refinarias. Aliás, segundo o monitoramento da Quantitas Asset, o valor da gasolina nas refinarias brasileiras já está cerca de 20% abaixo do mercado internacional.
No mercado financeiro e no setor de petróleo, inclusive, começam já questionamentos sobre a demora no repasse pela Petrobras para o aumento dos combustíveis nas refinarias. Está sempre à sombra da estatal o longo período de interferência política nos preços.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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