Primeiro, os hotéis começaram a adaptar quartos para servirem de escritórios de olho na demanda por teletrabalho na pandemia. Em Porto Alegre, o movimento foi iniciado pelo Grupo Accor ainda em maio, como registrou a coluna na época. Mas, para sustentar uma operação hoteleira, é preciso de mais fôlego de ocupação. Agora, a reinvenção que ganha espaço é transformar apartamentos em espaços para moradia. Dependendo do hotel, é um andar, uma torre inteira ou até mesmo o empreendimento na sua totalidade.
A coluna tem noticiado algumas iniciativas, como do Ritter Hotéis, que alterou 10 andares; do Hotel Embaixador, que transformou 30% dos 182 apartamentos; e também do Swan Business Molinos. Mas já tem conhecimento de várias outras e, ao que tudo indica, a concentração maior de empreendimentos renovados para moradia fica no centro de Porto Alegre. Soube, inclusive, de um hotel que vendeu todos os estúdios repaginados em duas semanas. Entre os clientes do setor imobiliário, estão muitos investidores conservadores decepcionados com o retorno minguado - e até prejuízo - da renda fixa e que ainda não alcançaram o arrojo necessário para outras aplicações financeiras.
Para o hotel, o morador traz mais custo. Em especial, nas contas básicas como água e luz. Além disso, paga menos proporcionalmente pela diária do que um hóspede de curto prazo. Mas traz a segurança de uma ocupação garantida e uma receita fixa, o que também tem grande valor para um negócio.
A mudança não ficará restrita à estrutura do hotel, com certeza. Mais pessoas morando na região tendem a mudar a cara do centro da Capital. Talvez o anoitecer não deixe mais as ruas desertas. Mesmo de dia, deve mudar a sensação de que todos os pedestres estão de passagem rápida e agarrados às suas bolsas. A ocupação das ruas pela população também traz segurança.
- Se você olhar os bares, perceberá que as cadeiras seguem de plástico, mas a cerveja na mesa já é de uma marca mais cara - comenta Rogerio Wagner, diretor da Ponto Pronto e que atua em negócios envolvendo pontos comerciais.
Os apartamentos nos hotéis são pequenos, claro. Cozinhas e lavanderias, na maior parte dos casos, são compartilhadas, tirando pequenas estruturas individuais que os arquitetos conseguem encaixar. Mas muitas pessoas estão adotando o estilo de vida minimalista, que até é apontado como uma característica da nova geração de jovens. O gaúcho que queria uma casa em Porto Alegre, uma na Serra, uma na praia e quem sabe outra no Uruguai com carro caro na garagem, tem agora filhos que não querem casa grande, se deslocam com transporte de aplicativo e se hospedam em lugares diferentes que selecionam em um clique em diversos sites.
Se o movimento prosperar e o Centro mudar, o estilo de vida tende a atrair mais pessoas
- Se as pessoas morando trouxer segurança para o Centro, leva as pessoas que gostariam de viver na região, mas ainda têm medo - comenta Sérgio Galbinski, presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), enquanto já prospecta para a coluna o que isso pode mexer com o comércio da região.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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