Era para ter saído ainda na semana passada um pacotão de medidas econômicas do governo federal. Por desacerto, principalmente, de valores, o programa está sendo adiado. Nele, está a prorrogação do auxílio emergencial, que até agora é de R$ 600, e também o lançamento do Renda Brasil, que substituirá o bolsa família. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro quer benefícios maiores, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a equipe econômica tentam encontrar de onde tirar esse dinheiro.
A pandemia do coronavírus fez o governo tomar medidas de estímulo para conter o impacto na economia. Em especial, com foco nas famílias de baixa renda e na contenção da onda de desemprego. Sobre o assunto, veja o que mostrou um estudo do banco de investimentos JP Morgan: Qual foi o impacto do auxílio emergencial na renda dos moradores de cada região do país
Ao mesmo tempo, isso tirou o país do caminho que era traçado, com a aprovação de reformas estruturantes. O ajuste fiscal das contas públicas foi suspenso e agora é uma grande preocupação. A coluna foi ouvir dois economistas e perguntou:
Ainda é hora de o governo federal gastar ou precisa voltar para o eixo do ajuste fiscal?
Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUC/RS:
"Me parece que a resposta para esta pergunta é uma questão de dose e planejamento. A capacidade fiscal do Estado é limitada e gerar dívida de forma indefinida e sem planejamento é, no mínimo, temerário. No entanto, foi justamente o desembolso do governo que manteve um mínimo de dignidade para uma parcela significativa da população e que, ao que tudo indica, está sendo responsável por uma retomada de atividade econômica mais rápida do que se imaginava há alguns meses. Acho impensável abrirmos mão de programas de suporte aos mais pobres por um longo tempo daqui para diante. A rede de proteção social do Brasil precisa ser fortalecida para fazer frente à pobreza e desigualdade profundas que resultam da crise que pela qual estamos passando. Não penso que este seja o tipo de gasto a ser cortado. A questão, então, é sobre que tipo de ajuste fiscal será feito a partir de agora. Reformas administrativa e tributária me parecem os candidatos mais fortes a contribuírem com esta missão. Elas precisarão ser assertivas e profundas, sempre mantendo um olhar cuidadoso sobre os mais pobres. Se a reforma tributária federal parar na unificação de tributos, por exemplo, será absolutamente frustrante."
Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas Asset, gestora de fundos de Porto Alegre que também participa com projeções do relatório Focus, do Banco Central:
"Qual a informação mais importante para olhar o futuro da economia no curto prazo? O ajuste fiscal. Aprendemos entre 2010 e 2015 que o Estado que direciona o gasto público não necessariamente gera mais crescimento. O principal motivo é o risco na percepção dos investidores gerado quando o país se desorganiza em termos de excesso de gasto, o que torna a coisa mais cara. Por mais que possa gerar um crescimento de curto prazo, o que ainda é discutível, é muito maior o custo que gera no longo prazo pelo aumento de risco. A taxa de juro longa é o que impacta no investimento privado e a moeda também se desvaloriza. No final das contas, você troca um investimento privado de longo prazo, que tem um impacto sustentável no crescimento, por um investimento público de curto prazo. Não acho que seja a hora de gastar, não. Acho que é hora de se organizar, reformular os gastos obrigatórios para poder, então, pensar em fazer investimento público. Isso se tiver espaço de orçamento. Essa era a agenda pré-covid-19 e agora precisa voltar a ela o quanto antes. Não é por causa da queda da Selic que a taxa longa está tão acima do juro curto. É pelo risco constante que, seja de governo, parlamento ou de quem quer que seja. Há o risco de que o nosso fiscal fique muito desorganizado no ano que vem e que achem uma brecha para gastar acima do que se pode. Não é hora de gastar, pelo contrário. O ano foi totalmente atípico e agora precisamos voltar à agenda de reformas do Estado."
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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