A crise provocada pela pandemia está fazendo o dinheiro sumir do orçamento das famílias, das empresas e dos cofres públicos. Então, os ouvintes e leitores da coluna começam a perguntar por que não imprimir mais? Parece uma solução óbvia e fácil, gerando moeda para financiar gastos e girar a economia durante essa situação sem precedentes que promete queda de 5% ou mais do PIB brasileiro em 2020.
Olha, não deixa de ser uma ideia, com opiniões contra e a favor. A divergência está sobre o impacto na inflação, se seria ou não algo perigoso neste momento. Até mesmo porque uma peculiaridade dessa crise é a falta de previsibilidade, sobre intensidade e duração.
A impressão de dinheiro foi citada recentemente pelo secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda. E não só por ele, mas até mesmo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes que respondeu "sim", quando foi questionado por parlamentares no Congresso sobre a possibilidade de emissão de moeda, complementando que poderia ocorrer em um cenário de "inflação zero". Até o ex-presidente Lula sugeriu a medida, dizendo que a demanda está baixo e isso mantém o risco inflacionário reduzido.
Mas a impressão de dinheiro não é cogitada neste momento pelo Banco Central. O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, já foi questionado sobre isso recentemente. Mas respondeu que não é o que o banco planeja para agora e citou que há um risco perigoso de gerar inflação, por mais estejamos registrando queda de preços. Teríamos, portanto, que abrir mão do controle inflacionário. Aliás, o próprio secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse que isso seria possível só com juro zero - estamos com Selic a 3,75% ao ano - e que Guedes falou mais do ponto de vista teórico.
O aumento da base monetária, como também é chamada a emissão de moeda ou impressão de dinheiro, tem efeitos nos juros do país e, segundo preocupa alguns economistas, aumenta a dívida pública. O Banco Central tem o poder para a iniciativa, mas também é o responsável pela política monetária. Se enviar dinheiro ao Tesouro, esse acabará nos bancos, que tentarão emprestar ao Banco Central pela Selic, gerando pressão inflacionária, caso a autoridade monetária não compre.
É um equilíbrio delicado, com efeitos nem sempre facilmente previsíveis, o que aparece, inclusive, pelas divergências de economistas sobre a atitude, que até vem sendo adotada em outros países. Lembrando que a inflação gera sempre tem um impacto maior nas famílias de baixa renda.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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