Ainda não é o indicador oficial, que o IBGE divulga ainda nesta semana, mas é um índice tão respeitado quanto. O Índice de Preços ao Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas, fechou abril em -0,18%, ou seja, deflação. Com o resultado, o indicador acumula alta de 0,74% no ano e 2,60% nos últimos 12 meses, o que são percentuais baixos de inflação.
Mas o que está provocando a deflação? Seis das oito classes de despesa da pesquisa tiveram queda nas suas taxas de variação. A maior contribuição partiu do grupo Transportes (-1,57% para -2,02%). O destaque aqui é para o comportamento da gasolina, que fechou o mês com queda média no país de 6,76%. A queda no preço do petróleo gerou redução nas refinarias, chegando às bombas. Mas, por trás desse efeito, está a queda enorme na demanda. Seja mundialmente, com a covid-19 derrubando as previsões de consumo de combustíveis pelo mundo. Seja localmente, com os postos vendendo menos gasolina. O bom mesmo era o preço da gasolina estar caindo por termos refinarias mais eficientes e uma carga tributária menor.
Também registraram decréscimo em suas taxas de variação os grupos: Educação, Leitura e Recreação (-0,22% para -0,90%), Alimentação (1,51% para 1,10%), Habitação (0,23% para 0,13%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,38% para 0,35%) e Comunicação (0,06% para 0,04%). Nestas classes de despesa, vale destacar o comportamento dos itens: passagem aérea (1,43% para -6,03%) com uma queda absurda na demanda com o cancelamento de voos, hortaliças e legumes (9,87% para 5,57%) e tarifa de eletricidade residencial (0,35% para 0,05%).
Em contrapartida, o grupo Despesas Diversas (0,32% para 0,35%) apresentou avanço em sua taxa de variação. Nesta classe de despesa, vale citar o item serviços bancários (0,22% para 0,35%). Pode ser uma compensação dos bancos nas reduções que precisam fazer em taxas de juros de linhas de crédito, por exemplo. Fique atento a isso.
O grupo Vestuário repetiu a taxa de variação de -0,32% registrada na última apuração. As principais influências partiram dos itens: roupas (-0,39% para -0,24%), em sentido ascendente, e calçados (-0,39% para -0,67%), em sentido descendente. Ou seja, quedas de preços mesmo com a chegada de uma nova estação, o que sinaliza queda de demanda.
Apesar de um certo alívio trazido pela deflação neste momento, é uma queda de preços longe de ser comemorada. Também teremos uma deflação de serviços, provocada pela retração generalizada na demanda. Não há espaço para aumento de preços. Muitos, inclusive, estão proibidos de funcionar. Teremos, portanto, uma deflação de demanda. O bom seria termos a inflação de 4% que era a meta do governo federal, mas este é um cenário não mais possível com a greve crise provocada pela covid-19. O relatório Focus de hoje, por exemplo, trouxe uma previsão de +1,97% para o IPCA de 2020. O índice é calculado pelo IBGE e considerado a inflação oficial do país.
- Você está com uma das maiores recessões que o Brasil já passou, isso gera um efeito muito substancial sobre o consumo, até porque você terá um aumento muito grande do desemprego. Para 2020, a gente espera que o desemprego alcance patamares entre 13,5% e 14%. Você acaba passando o ano todo com uma demanda muito deprimida, o que significa a pressão para baixo dos preços porque as pessoas não compram. O consumo de bens e serviços vai continuar em um patamar baixo, mesmo a partir do momento em que se tenha uma recuperação - comenta João Fernandes, economista da Quantitas Asset.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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