Nas medidas anunciadas pelo Banco Central, BNDES e Caixa Econômica Federal, a coluna destaca a redução nas taxas de juro das operações de crédito. No caso do financiamento para pequenas e médias empresas pagarem a folha de pagamento, o juro será de 3,75% ao ano. Ou seja, é apenas a Selic, sem o chamado spread bancário, que é custo que o banco coloca em taxas de empréstimo. Será, portanto, um financiamento barato, com carência de seis meses para começar a ser pago e parcelamento em 36 meses.
Claramente, é para dar fôlego para as empresas não realizarem as demissões em massa nesse momento. Abrange quem tem faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões ao ano, que, segundo o Banco Central, são as mais afetadas agora e, como sabemos, geram o grosso dos postos de trabalho no país.
- O melhor é que não usarão o fiscal, pois virá recurso do BNDES. Além disso, é dinheiro direto para as contas da pessoa física, evitando demissões e que as empresas usem o caixa para outro fim - analisa Wagner Salaverry, analista de mercado e sócio da Quantitas.
Uma reclamação frequente é a tomada de crédito com o BNDES. Em especial, por pequenas empresas. No entanto, o Banco Central reforçou que é uma força-tarefa, o que sinaliza que haverá um "azeitamento" do processo. Para empresas já clientes, a Caixa Econômica Federal informa que será fácil e rápido, mas que vale para todas e que já conduz conversas com o Sebrae neste sentido.
- A linha do governo federal é muito boa. A empresa não quer demitir e é muito caro desligar os trabalhadores. As empresas estão em estado de calamidade - diz o presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski.
Lembrando que segue a possibilidade de as empresas fecharem acordos com os sindicatos de trabalhadores para a suspensão do contrato de trabalho por quatro meses, com os funcionários recebendo a bolsa qualificação do governo federal. Já houve uma convenção coletiva neste sentido entre o Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre e o Sindicato dos Comerciários. Além disso, a General Motors (GM) também acertou o mesmo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí para os cerca de 6 mil funcionários da montadora e de sistemistas do complexo do Rio Grande do Sul.
Ainda no anúncio, ficou a promessa de novas medidas nas próximas semanas para os microempreendedores e para os informais. Além disso, haverá ações setoriais específicas. O BNDES citou como exemplo as empresas de transporte, em especial aéreo. As companhias, enquanto isso, estão fazendo diversos acordos com seus funcionários de redução de salário e licença não remunerada. Algumas até demitiram e depois voltaram atrás, optando pela redução salarial. Talvez, apostando em uma demanda represada.
Houve redução de juro também para o consumidor. A Caixa Econômica Federal derrubou para 2,9% ao mês as taxas do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito, que são as linhas de crédito mais caras do mercado, mas ainda assim as mais acessadas. Inclusive, por pequenos empresários que tomam esse dinheiro para capital de giro. É um crédito pré-aprovado e mais fácil de ser acessado. Até por isso que ele é caro. Segue caro, mas "menos caro".
A redução anunciada pela CEF é forte e tende a ser seguida por outros bancos. Essas medidas costumam ter a Caixa Federal tomando a dianteira, provocando a concorrência no setor bancário. Com isso, se diminui a bola de neve do endividamento dos brasileiros, que vira a inadimplência, uma trava perigosa da economia. Além do impacto no emocional das famílias.
No anúncio, a Caixa reforçou que o auxílio de R$ 600 será liberado quando houver a aprovação do Congresso e com o decreto do governo federal sobre a operacionalização. Sinalizou que deve ter um cronograma semelhante ao saque imediato do FGTS, liberado em 2019.
Mas ainda vem mais por aí. Bem mais. Os governos estão estudando mais medidas e repensando outras conforme se agravando a crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus. Nesta semana, a coluna publicou uma fala do empresário Abílio Diniz, onde ele enfatiza que o governo e os bancos terão que gastar muito dinheiro para a retomada da economia após a questão de saúde ser controlada e resolvida. Disse ter falado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que o aporte financeiro deve superar R$ 600 bilhões.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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