Atrás de mim, tem minha mãe. Aliás, ela também está ao meu lado e na minha frente. E ainda ao alcance do WhatsApp, a cinco quilômetros de distância ou escolhendo por 10 minutos as maçãs mais bonitas do mercado para nos trazer. Enquanto escrevo esse texto, ela está de mãos dadas com meus filhos para deixá-los na escola, sempre mandando mensagens para avisar que está tudo bem.
— Giane, eu tenho tempo e não quero que tu corras no trânsito — repete Guiomar, para mim e para a coordenadora da escola da filha mais velha, que também foi minha prô Dani na infância e apoia esse "sacrifício" da minha mãe.
Sim, ela vai até a minha casa às 6h30. Enquanto eu saio para o trabalho, ela faz uma trança no cabelo da minha filha mais velha. Ou seja, Atena já tem atrás dela, literalmente, também uma mulher forte.
Tenho até um certo receio quando "mulher forte" vira rótulo e gera - mais ainda - expectativas, já que não tenho toda essa força todos os dias. Em alguns momentos, quero só ficar dentro da conchinha e que alguém em quem eu confie tome as decisões mais urgentes. Se bem que aceitar isso já deveria nos tornar "mulheres mais fortes ainda".
Trabalho bastante e desde os 15 anos, tenho dois filhos para os quais cozinho o jantar todos os dias, sou casada, danço, malho, estudo e o que mais pintar por aí. Meu marido é um pai muito atuante, mas o foco deste texto são as mulheres, já que comemoramos o nosso dia neste domingo. Então, volto a minha mãe, que, além de ir até nossa casa diariamente desde que a neta mais velha nasceu, também foi uma profissional de destaque no trabalho, cuida dos meus avós, dá suporte para irmãos dela, ajuda meu irmão e está insistindo que "montou um esquema" para nos levar ao aeroporto hoje à noite, por mais que eu diga que não precisa.
Atrás de uma mulher forte, tem outra ou mais mulheres fortes. Ou deveria ter. Se uma rede de apoio é essencial, é mais importante ainda que, nela, haja mulheres. Isso gera a tal sororidade, com empatia e companheirismo.
Só para lembrar das mulheres fortes da minha semana sem voz, eu tive os chás de camomila com gengibre da colega de GaúchaZH Kamylla Lemos. Depois, ainda ganhei o própolis da Kelly Matos, me pedindo para reduzir o tom da voz para poupá-la. Também a Andressa Xavier, que sabendo da minha resistência a não entrar no ar na Rádio Gaúcha, ficava monitorando se eu estava forçando demais o meu principal instrumento de trabalho. Na RBS TV, a Khira Borba topou mudar todo o meu figurino de última hora para que eu ficasse mais confortável naquele dia do mês em que muitas mulheres só queriam vestir pijamas. E ainda disse quando pedi desculpas pela chatice:
— Não é chatice. Também é sobre nosso corpo, nosso ciclo, nosso processo.
Nosso ciclo diário, mensal e de vida nem sempre é fácil, mas é lindo e deve ser respeitado. Peça e aceite apoio. Mas também ofereça apoio a outras mulheres. Afinal, #éasguria.
Outro texto, escrito em 2018 para o Dia da Mulher: Que tenhamos paz nas nossas escolhas