No noticiário por ter contado em um processo judicial que pediu dois empréstimos após o fim do auxílio-moradia para magistrados, o juiz de Ibirubá ganha 9,5 vezes o que um trabalhador gaúcho recebe em média por mês. Conforme o colega de GaúchaZH Eduardo Matos, que consultou o portal da transparência do Tribunal de Justiça, o rendimento líquido do magistrado é de R$ 24.184,04. Enquanto isso, a última pesquisa do IBGE apontou um rendimento médio no Rio Grande do Sul de R$ 2.558.
Ressalte-se que a pesquisa do IBGE considera todo mundo que disse estar trabalhando. Pega a faixa salarial mais baixa, que é de R$ 888, relatada pelos trabalhadores domésticos sem carteira. Mas também considera o valor médio mais alto, de R$ 7.005, citado pelos empregadores sem CNPJ.
O juiz Ralph Moraes Langanke "abriu o coração" e a situação financeira pessoal em um processo de uma indústria contra um banco. Afirmou que não poderia julgá-lo devido a dois empréstimos contraídos após o fim do auxílio-moradia, que passou a ser pago apenas a juízes que são transferidos. Langanke acrescentou que foi necessário usar os empréstimos para cobrir o uso do cheque especial, que é o limite que o banco oferece para quem gasta mais do que tem na conta corrente. Aliás, é, atualmente, o juro mais alto das operações de crédito para pessoas físicas, com taxa média superior a 270% ao ano. Trecho da decisão diz:
"(...) em razão da redução real dos salários da magistratura gaúcha provocada pela cessação do pagamento do Auxílio-Moradia (no meu caso, a redução nominal do salário foi de quase dois mil reais), tornei-me devedor do Banrisul, visto que, para recuperar o limite do cheque especial, tive que contrair dois (02) empréstimos consignados no BANRISUL, cujo pagamento será feito em oitenta e quatro (84) prestações mensais e sucessivas (...)", decidiu o juiz.
Cada um tem a despesa que quiser e a coluna também não sabe o detalhamento dos gastos do juiz ou quantas pessoas ele sustenta. Ter declarado o impedimento parta julgar o processo até foi correto, inclusive. No entanto, culpar o fim do auxílio-moradia por estar inadimplente - e com 84 prestações de um empréstimo para pagar - acaba afrontando quem recebe um salário médio.
Há um mantra financeiro que é o preferido da coluna: ter um padrão de vida inferior à renda mensal. Seguindo ele, a conta sempre vai fechar. Quando o cito nas minhas dicas de finanças pessoais, estou ciente de que é difícil de ser cumprido por quem ganha um salário mínimo e até por quem ganha a média apontada pelo IBGE. No entanto, salvo necessidades muito especiais, é realmente complicado entender que não se consiga adequar o padrão de vida de uma família a uma renda de R$ 24 mil.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
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