Um dos executivos da nova geração que comanda a CMPC no Brasil tem experiência em negociações da Vale nas tragédias de Mariana e Brumadinho. Na mineradora, foi gerente de Relacionamento e Responsabilidade Social. Agora, na fabricante mundial de celulose e papel, é diretor de Relações Institucionais e Comunicação no Brasil. Daniel Ramos está no cargo há pouco mais de seis meses e tem como uma das tarefas fixar a mudança no nome da fábrica de Guaíba de Celulose Riograndense para apenas CMPC.
Por mais de sete anos, Ramos trabalhou para a Vale, como terceirizado e também como executivo direto da mineradora. Após alguns meses, como consultor em 2018, iniciou o processo de seleção para assumir a posição na CMPC.
O momento é importante. Em 2017, um acidente em uma caldeira paralisou produção por meses na fábrica de Guaíba. Em 2018, houve mudança no comando, quando Mauricio Harger assumiu a direção-geral e iniciou a renovação na gestão da empresa. Agora, em novembro de 2019, a CPMC comemora dez anos no Brasil, mercado onde entrou comprando a indústria gaúcha.
A coluna Acerto de Contas viajou com Ramos, a convite da CMPC, para conhecer operações no Chile, onde a empresa tem a sede. A percepção é um profissional com habilidade para resolução de conflitos. Faz o que ele próprio chama de "escuta ativa e qualificada".
— De que adianta eu sentar no gabinete e decidir que vou fazer uma praça para crianças, se o bairro tem mais idosos? Vou ouvir o que eles querem e vou construir baseado nisso.
Aliás, tem realizado diversas reuniões com a comunidade para finalizar o projeto de revitalização que a CMPC fará das orlas da Alegria e Alvorada, em Guaíba. Conta que, a partir das demandas dos moradores, acrescentará, por exemplo, um local para amarrar cavalos.
Ramos tem lidado com problemas antigos da fábrica de celulose. Um deles é o odor. A celulose produz um cheiro semelhante ao de ovo podre. O diretor fala que potencializou uma "rede de monitoramento de cheiro". Há uma equipe que faz ronda na planta e nos bairros. Se percebem cheiro ruim, os funcionários buscam a falha para consertar rapidamente.
— Se algum morador liga reclamando de cheiro, agora vai um técnico nosso lá.
O mesmo ocorre com os resíduos de madeira. Se o vento bate forte e suja carros dos moradores, Ramos disse que a empresa manda lavar e polir os veículos.
Daniel Ramos fala muito também da sua aposta na economia circular, que é um conceito econômico que trabalha, por exemplo, o melhor uso, reuso e reciclagem. É o contrário da economia linear. Para isso, será criado o Instituto CMPC, um canal entre a comunidade e a empresa, para que sejam apresentadas ideias que, se aprovadas, serão colocadas em prática usando a estrutura oferecida pela empresa. Será o primeiro da empresa fora do Chile, sendo que CMPC atua em oito países.
* Giane Guerra viajou para o Chile a convite da CMPC