Economista-chefe da consultoria GAP Economics, Gustav Gorski chamou a atenção da coluna Acerto de Contas para um trecho o relatório de inflação divulgado pelo Banco Central nesta semana. Segundo ele, a autoridade monetária mandou um recado claro sobre como vê o repasse da alta do dólar para os preços e, por consequência, para a inflação.
A desvalorização do real em relação ao dólar tem levado o mercado a projetar impacto forte na inflação. Com isso, o Comitê de Política Monetária elevaria a taxa de juros Selic, mecanismo usado para controle de preços. Por mais, que o Banco Cental diga que política cambial não mexe diretamente na política monetária.
No entanto, o relatório do banco mostrou que esse repasse cambial está bem limitado. Segundo Gorski, o motivo é a economia enfraquecida, que não abre espaço para aumentos fortes de preços.
"Aplicando o modelo para o período recente, referente ao segundo e terceiro trimestres de 2018, constata-se que, embora a magnitude da depreciação cambial atue para um repasse cambial mais alto, a ancoragem das expectativas, a posição no ciclo econômico e a margem operacional das empresas contribuem para reduzir o grau de repasse cambial quando comparado a outros momentos. Considerando-se a magnitude das contribuições de cada fator, prepondera o efeito dos fatores que reduzem o repasse cambial", diz trecho do relatório do Banco Central.
Para o economista da GAP, é um discurso dovish, ou seja, mais pacifista. Gustav Gorski entendeu que não há forte preocupação com a inflação gerada pelo dólar.
- Foi um recado para o cara que está olhando com expectativa de inflação maior, que acha que o juro terá de subir muito rápido no ano que vem. O Banco Central disse: "calma aí, que a gente não vai precisar colocar o juro lá em cima" - comenta Gorski.
Repetindo o que a ata apontou na semana passada, o relatório de inflação confirmou que o Banco Central prevê IPCA de 4,5% em 2019. No cenário de referência, o centro da meta é 4,25%.