
O Brasil é o país do simbolismo torto. No mesmo 1º de maio em que o país deveria celebrar os trabalhadores, Fernando Collor de Mello foi autorizado pelo STF a cumprir pena em casa. Um ex-presidente impichado, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, pagando pelos crimes com ar-condicionado e varanda gourmet. A justificativa de Alexandre de Moraes para permitir o escárnio foi a alegação de que o marajá de Alagoas tem doença de Parkinson, apneia do sono e transtorno bipolar, pobrezinho.
Haja boa vontade, ministro.
Enquanto isso, o aposentado que trabalhou 40 anos segue na fila do SUS, na fila do banco e na fila da humilhação. E enquanto aguarda pela próxima, descobre que o desconto indevido no seu benefício era propina para lobista comprar Jaguar.
O escândalo do INSS, uma das maiores fraudes da história deste triste país, caiu no colo de um governo enfraquecido e de uma oposição com sede. E não por acaso, a oposição resolveu agir. Mas não para proteger os velhinhos.
Na mesma bandeja em que serve a CPI da Previdência — um torpedo contra o governo Lula —, a oposição empurra também a anistia para os condenados do 8 de Janeiro, o colete salva-vidas para Bolsonaro.
A CPI, se sair, não vai dar em nada, como nenhuma delas dá. Mas vai sangrar o governo, vai dividir os holofotes com o julgamento de Bolsonaro no STF, vai gerar cliques e narrativas. Ao mesmo tempo, o presidente Lula, que um dia incendiou palanques no 1º de maio, passou o feriado trancado no Alvorada falando de avanços e mencionando o escândalo como quem menciona uma mancha na parede: com incômodo, mas sem urgência.
Como diria o Barão de Itararé, “de onde nada se espera, é daí que não sai nada”.
E no Congresso, a foto mais simbólica veio do lançamento da federação entre PP e União Brasil. Seis ministros na Esplanada, quatro governadores, 123 parlamentares, um fundo partidário e eleitoral bilionário e… nenhum representante do Planalto. Foi uma festa da oposição. Com Arthur Lira, Valdemar Costa Neto e companhia no comando das pick-ups. Um bloco que já entendeu para onde o vento sopra em 2026.
Na CPI, a oposição não quer justiça, quer palco. Na anistia, não quer pacificação, quer blindagem. E no meio disso tudo, o governo se arrasta sem alma. Lula fala, mas não convence. Governa sem autoridade.
A foto do 1º de maio não é a de um presidente com o povo. É a de um líder encastelado, acuado por escândalos, por aliados que não obedecem. Não há indignação, não há ruptura, não há comando. Há apenas o silêncio calculado de quem já não sabe se é melhor falar ou esperar que a tempestade passe sozinha.
E assim seguimos como um país em que os escândalos não produzem mais indignação, onde a crise não gera reação e onde a pergunta já não é mais quem está vencendo. É se ainda tem alguém governando.