
O outono chegou trazendo consigo não apenas o prenúncio das temperaturas mais amenas, mas também a ressaca de uma economia que cambaleia sob o peso das decisões do governo. A taxa de juros subiu para 14,25% ao ano, um número que assusta, mas que não surpreende. O Banco Central fez o que era esperado diante de um governo que vem gastando além da conta e agora assiste, impotente, à conta chegando.
Os supermercados estão mais silenciosos. O barulho dos carrinhos cheios deu lugar ao som das calculadoras mentais, das comparações entre marcas, do abandono de produtos que antes eram corriqueiros. O brasileiro sempre teve um talento especial para equilibrar contas que não fecham, mas há um limite para esse malabarismo. E ele está se aproximando, haja vista as pesquisas de opinião sobre a condução da economia.
A culpa não recai apenas nos fatores externos — que sim, existem e impactam os números. A origem do problema tem CEP e fica na Praça dos Três Poderes, onde o Palácio do Planalto apostou alto na expansão fiscal, ignorou os alertas de economistas — inclusive os do próprio ministro da Fazenda — e agora vê a inflação corroendo salários e a popularidade do presidente.
O enredo é conhecido: o governo gasta para estimular a economia, mas gasta demais e do jeito errado. A inflação sobe, o Banco Central reage aumentando os juros. O crédito encarece, o consumo desacelera, o crescimento empaca. No início do mandato, Lula esbravejou contra a política monetária, acusou o Banco Central de agir contra o país e insinuou condutas pouco republicanas a respeito do ex-presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Agora, o silêncio. Não só porque o novo gestor do Bacen é amigo do governo, mas porque não há mais como contestar o óbvio: sem o porrete dos juros, a inflação já teria saído do controle.
Agora, resta apertar o cinto e torcer para que o ajuste não seja tarde demais. Mas, se há algo que a história recente nos ensina, é que esperar responsabilidade fiscal de um governo que insiste em desafiar a matemática pode ser um exercício de otimismo ingênuo.