
O Congresso Nacional trabalha de terça a quinta-feira. No resto da semana, ele só nos humilha. A aprovação do Orçamento de 2025 em minutos, após três meses de atraso, foi mais um lembrete de que quem manda no país não tem pressa, a não ser quando o assunto for emendas.
É um orçamento que não inclui tudo o que deveria e tergiversa sobre despesas que deveriam estar computadas. O programa Pé-de-meia, por exemplo, que vai custar algo entre R$ 12 a R$ 15 bilhões, não está lá como deveria. Nem os R$ 44 bilhões em precatórios que o STF, numa decisão estranhíssima, permitiu que ficasse de fora do texto. É a institucionalização da pedalada fiscal.
Ao mesmo tempo, a peça aprovada explica muito sobre a visão do governo de como gerir os recursos que são pagos por mim, por você, por seus vizinhos. O governo gasta muito e gasta mal, sobretudo porque não tem planejamento. Estão previstos mais de 2 bilhões de reais para asfalto, por exemplo, mas não há menção sobre qual pedaço de descaminho do nosso país será asfaltado, nem quando. O orçamento para moradia popular é três vezes menor do que o valor que foi gasto ano passado com passagens e diárias. É uma matemática que soma o que não vai entrar, subtrai o que não quer pagar e multiplica o que não deveriam distribuir.
E enquanto o civil médio tentava entender como que 500g de café estão custando quase R$ 30,00, o parlamento brasileiro festejava a aprovação do texto que garantiu não só os R$ 50 bilhões em emendas parlamentares para este ano, como também os R$ 10 bilhões de troco do ano passado que o STF tinha barrado ano passado. Um acerto de contas entre governo e Congresso que não leva em conta a responsabilidade fiscal na equação.
O sistema está esgotado. O dinheiro das emendas é usado da maneira mais abjeta possível, servindo como cabresto eleitoral e condenando a nação a jamais renovar sua classe política. O ciclo é claro: o deputado manda a verba pra cidade do aliado, garantindo a reeleição, que contrata a empreiteira do amigo, que entrega meia calçada e fatura um quarteirão. Todo mundo ganha, menos o cidadão que pagou por tudo.
Enquanto isso, as pessoas se engalfinham na internet para defender o político que rouba menos, que mente melhor ou que disfarça com mais carisma. As torcidas organizadas ignoram a realidade e insistem em defender de modo inabalável o seu palhaço favorito, enquanto todos eles jantam juntos em Brasília, brindando à ingenuidade da nossa gente. É por isso que eles se sentem à vontade para irrigar bolsos Brasil afora com dezenas de bilhões de reais do nosso dinheiro.
O Orçamento foi aprovado e o sistema continua funcionando perfeitamente — só não é pra gente.