Vivemos uma crise desafiadora e incomparável, maior, até, que a peste bubônica da Idade Média, quando a propagação era lenta, sem a azáfama atual, num tempo de crendices absurdas, sem consciência de vírus ou de bacilos nem de contágio. Não havia as concentrações urbanas de hoje nem automóveis, navios e aviões facilitando a proliferação.
O coronavírus gerou uma consciência planetária sobre o novo perigo, superior ao que a ciência conhecia. A maior crise sanitária da humanidade impacta em tudo. Na economia e emprego, nos hábitos familiares e até no humor individual ou no amor. Está em jogo a vida.
O mundo inteiro está consciente disso, menos o presidente Jair Bolsonaro, para quem tudo é só uma "gripezinha", um "resfriadinho". Como perturbado pela fantasia inventada, Bolsonaro nega a ciência e a realidade. Preferindo a bruxaria palavresca, "negou" a possibilidade de amplo contágio no mesmo dia em que as Olimpíadas de Tóquio eram suspensas em função do vírus. Logo, reiterou o absurdo.
A "gripezinha" lembra a "marolinha", com que Lula classificou a crise de 2008, que desarticulou a economia mundial. Fingindo-se de cegos, ambos se destacam pelo exótico do ridículo.
No caso de Bolsonaro, a alucinação foi adiante. Disse absurdos e falsidades em cadeia nacional de rádio e TV e se atreveu, até, a "prescrever" cloroquina contra a covid 19, como se fosse médico virologista. Usado contra malária, o remédio (em altas doses, caso servisse) afeta rins, olhos e audição.
Nada explica a visão alucinada do presidente ao atacar os meios de comunicação por alertarem sobre a peste. Ou chamou de "histeria" as informações sobre o horror por não saber, sequer, o significado da palavra?
A ignorância pode virar crime se propalada por quem tem poder de mando. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (conservador, mas lúcido) e o ex-presidente Fernando Henrique chegaram a insinuar isso, agora, sobre a postura de Bolsonaro.
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No RS e no país, a população entendeu o alerta e vive a crise solidariamente, em mútua ajuda. As raras exceções são resquícios do mito que se esvai pelo ralo, como água usada. Prevenção e higiene evitarão ter, aqui, o desfile fúnebre da Itália, onde (sem prevenção, para "não afetar o turismo") a peste mata a esmo, agora.
O "fica em casa" é novo lema da "pátria amada, Brasil" do hino.
Não basta só lavar as mãos. Aqui, o vírus afetou, por igual, os presidentes do Grêmio e do Internacional. Em Brasília, o presidente do Senado e ministros ou assessores de Bolsonaro. Na Inglaterra, o príncipe Charles. Nenhum deles deixou de lavar as mãos.
É preciso ir além e viver o real, não a alucinação.